CHRONOS, segundo a mitologia, estaria ligado simbolicamente ao tempo - aquele que devora tanto quanto engendra; aquele que destrói suas próprias criações; que estanca enfim as fontes da vida
CHRONOS, segundo a mitologia, estaria ligado simbolicamente ao tempo - aquele que devora tanto quanto engendra; aquele que destrói suas próprias criações; que estanca enfim as fontes da vida. Representa a fome devoradora da vida, o desejo insaciável. Nas imagens aparece sempre armado com sua foice implacável, apontando o sentimento de uma duração que se esgota! Nas estórias relatadas, Chronos se mostra incapaz de adaptação a uma outra realidade que não a sua e só pode ser vencido com sua própria morte ou expulsão para o céu. Se estamos à mercê do tempo (Chronos), no entanto, talvez pudéssemos expulsá-lo.
Que tal programarmos nossos relógios para que eles funcionem para trás, no sentido anti-horário, assim poderíamos inverter a passagem do tempo, vivendo a vida em retrocess teríamos o amanhecer de um novo dia no entardecer e o anoitecer no nascer do sol! Com as horas passando no sentido contrário teríamos antes de qualquer coisa aprender a caminhar e dirigir sempre em marcha-ré, entrar em casa quando deveríamos sair e naturalmente sair na entrada!
Continuando com este exercício imaginativo alguns fatos dolorosos do viver teriam outra ressonância afetiva: se o tempo passa no sentido contrário, o início de um relacionamento amoroso seria no seu fim e o fim no primeiro encontro, com isso as separações inevitáveis não provocariam a dor da perda, porque não existiriam lembranças. Também os atos violentos que provocam tanto medo atualmente teriam um desfecho singular, uma vez que a bala sairia do corpo da vítima e penetraria no cano da arma, provocando então uma explosão que poderia ferir gravemente a mão do atirador. Colocando em cena os processos penosos do adoecer e morrer, também não teríamos de acompanhar este tempo na vida das pessoas que amamos, porque a experiência seria de participar de uma convalescença onde cada novo dia traria mais saúde, mais força e disposição – a morte seria ressurreição e os nascimentos um retroagir evolutivo, uma diminuição gradativa e gradual até o momento da célula única, sem dores e nem tão pouco choros e pesar.
Dirigindo nosso olhar para a esfera política uma possibilidade de transformação radical se abriria: os roubos não mais aconteceriam e veríamos apenas as devoluções aos nossos cofres de vultosas somas retornando do exterior e outros paraísos para o nosso poder. Viveríamos um tempo de retorno, reconstrução e ressurreição. Mas, apesar de todos os bons augúrios tudo não passa de “Imagine”!
(*) psicóloga e psicanalista