Dentre as muitas mensagens deixadas pelo Papa
Dentre as muitas mensagens deixadas pelo Papa Francisco em recente visita ao Brasil, uma marcou pela sua atualidade pontual, além de certeira análise dos desafios prenhes de dificuldades que a juventude enfrenta: “Não deixe que te levem a esperança!”.
Os que se encontram entre os 18 e 34 anos correm sério risco de viver grave crise cujo principal sintoma é a apatia que podemos mesmo dizer tratar-se de uma desvitalização indolente quando o jovem nem trabalha nem estuda e nem procura emprego! Reconhecida no momento como “geração nem... nem... nem”, esta não tem projeto de vida e tão pouco entusiasmo. Mesmo que pareça contraditório, ela está preparada e satisfeita, mas ao mesmo tempo vulnerável e perdida.
Algumas gerações anteriores tinham, ao concluir graduação superior, uma atrativa perspectiva profissional e de vida amorosa/familiar. O mercado de trabalho era promissor e o recém-formado percebia as oportunidades de crescimento acelerado a ponto de em pouco tempo de esforço e dedicação superar até mesmo a renda dos pais. O salto de conhecimento e formação acadêmica entre uma geração e a outra era indiscutivelmente grande. Por outro lado, o sonho de escolher adequadamente um companheiro a partir do acalentado sentimento de amor conferia a eles uma crença inabalável de que com eles “tudo seria diferente porque bem melhor!”.
Atualmente o quadro de referências mudou: é patente o risco de que a qualidade de vida dos filhos da classe média seja inferior à dos pais. Há uma melhora continuada no nível de vida em confrontação direta com a deterioração das condições de trabalho. A formação acadêmica com seu “diploma/ingresso” deixou de ser certeza para a entrada definitiva numa vida de sucesso econômico e pessoal, bem como de reconhecimento social. Ser jovem ou manter-se jovem para sempre tomou o lugar das perspectivas, dos sonhos e projeto extensivos; uma vez que esta seria a melhor época da vida! Uma sociedade “presentificada”, mais rica e tecnológica, mais tolerante e democrática, que impõe o aqui e agora dos prazeres ilimitados contrasta com as dificuldades crescentes para se emancipar e desenvolver um projeto vital de futuro. Aliás, nesta sociedade só existe o presente; o passado e o futuro foram totalmente abolidos, o primeiro pelo desinteresse e o segundo pelo medo.
Os surpreendentes e estonteantes avanços tecnológicos capazes de tornarem obsoletos os aparelhos lançados ontem face aos de hoje e muito mais ainda aos de amanhã transformaram a relação do homem com o tempo presentificado, também aparece nas relações de trabalho e amorosa: tudo é descartável, impermanente e mutável – não está claro que a dedicação, o compromisso, o título terão sua correspondente compensação social e de trabalho. Assim só resta silenciar-se solitariamente sem, contudo, deixar de lado seus aparelhos conectivos.
(*) Psicóloga e psicanalista