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Ser ou Ter uma mãe!

Durante muito tempo acreditou-se que ser mãe fazia parte do repertório instintivo de toda mulher...

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 10/05/2017 às 19:51Atualizado em 16/12/2022 às 13:28
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Durante muito tempo acreditou-se que “ser mãe” fazia parte do repertório instintivo de toda mulher. Hoje sabemos que a conduta materna também é aprendida. Esta aprendizagem percorre a trilha das marcas de memória deixadas pela vivência anterior de “ter uma mãe”; ou seja, aquela que se aventura na maternidade busca na própria memória as informações que darão sustentação às suas ações maternas. Ter e Ser uma mãe se aproximam e, em alguns casos, se fundem em total indiscriminação facilitada sobremaneira pela ignorância desta possibilidade.

Por outro lado, não temos nenhum manual com orientações seguras e confiáveis sobre “regras infalíveis de uma maternidade nota 10”. As experiências humanas seguem caminhos particulares: um indivíduo que forma outro indivíduo. Isto quer dizer que a experiência de “Ser Mãe” segue o caminho das internalizações – identificante/identificado que a psicanalista francesa Piera Aulangier, através de seus conceitos, facilita na compreensão do “difícil” e “desconhecido” papel materno. O acesso do eu a uma identificação simbólica se dá em dois tempos. Os enunciados que nomeiam o eu do infans são antecipados pela mãe e por ela projetados sobre o bebê num tempo em que a mãe era a “porta-voz” do bebê, que antes de falar já era falado, antes de sonhar já era sonhado. O processo identificatório tem início na medida em que o bebê se apropria e internaliza estes enunciados identificatórios como resultado de um trabalho de elaboração, de luto, de apropriação; ou seja o bebê não aceita passivamente estes enunciados. É como se a mãe lhe oferecesse peças de um quebra-cabeças que só ele pode montar: é ele que terá de escolher aquelas peças que o ajudarão a prosseguir e consolidar sua construção identificatória abandonando outras. O segundo tempo se dá quando a essas primeiras peças virão se acrescentar as “peças agregadas” vindas do encontro com outros identificantes como irmãos, amiguinhos, professores oriundos de um espaço vital em extensão. Por isso o edifício identificatório é sempre compósito que resulta num identificado único e singular – a série histórica de uma pessoa não se repete mesmo se tratando de pessoas da mesma família.

A simples leitura destes poucos conceitos atesta de antemão a importância das relações  mãe/bebê/família, pois no substrato do eu reencontramos as imagens paternas e seus ideais que durante toda a vida lutamos por reorganizar em versões atualizadas e saudáveis.

Numa expansão temática podemos incluir para posterior discussão as mil possibilidades de caráteres maternos neuróticos, psicóticos ou perversos assim como prevalência de sentimentos, por exemplo, a inveja. Quais os efeitos de ter ou ser uma mãe invejosa?

(*) psicóloga e psicanalista ilceaborba@gmail.com

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