A análise sistemática dos sonhos deu a Freud um nível de excelência na compreensão do aparelho psíquico, cuja inestimável contribuição foi a noção de inconsciente. Esta nos permite descrever e decodificar as mensagens contidas em cada sonho onde sempre encontramos o desejo como realizado, após a retranscrição do texto onírico para a consciência, obedecendo às suas próprias leis. Seguindo a orientação sugerida pelo título deste artigo, nossa atenção hoje se liga à noção de temporalidade.
Em Freud encontramos: “os processos do sistema inconsciente são atemporais, quer dizer, não estão ordenados de acordo com o tempo, nem se modificam pela passagem deste, nem em geral têm qualquer relação com ele.” O que Freud recusa ao Inconsciente é uma temporalidade semelhante ao tempo vivido, descrito pelos fenomenólogos. Se é difícil pensar o Inconsciente como atemporal, é fácil compreender as mensagens sintetizadas pelos sonhos dentro desta característica de atemporalidade a partir de um interesse na análise dos próprios sonhos.
Todo material que compõe o conteúdo do sonho procede de nossas experiências, daquilo que foi por nós vivenciado na vigília. Esse material é recordado no sonho, embora não seja imediatamente reconhecido pelo sonhador como sendo originário de suas próprias experiências; e esta é uma das características do conteúdo onírico manifesto, a de ser experimentado pelo sonhador como algo que lhe é estranho, como não sendo uma produção sua. Além desta influência das experiências imediatamente vividas, na formação do sonho interfere também a recordação de experiências passadas, que se dissipam após o despertar. Em outras palavras: cada sonho contém restos diurnos e recordações de experiências passadas. Assim, o dia a dia de cada um remete aos vestígios os sonhos em sequência, ou ainda: podemos acompanhar os fatos do viver individual, se atentarmos aos seus sonhos.
Como as experiências com a morte são inevitáveis na vida, os sonhos e seus personagens, por sua vez, revelam características únicas daquelas para os sonhadores. Ao longo do tempo, os sonhos me trazem de volta todos aqueles que perdi, na dependência do afeto que lhes dediquei. Assim tenho alguns protagonistas na minha vida onírica dentre eles: meu pai, minha mãe e minha irmã, que se revezam em representações dramáticas e cômicas ou até mesmo de angústia, onde eles atuam dinamicamente vivos. Com eles aprendi que no meu mundo interno – inconsciente – eles continuam tão plenos de vida como antes, às vezes, em situações inusitadas; outras, em repetições enervantes. Sabendo que esta experiência se estende a todos, posso confirmar o título acima: SIM, A ETERNIDADE EXISTE!, e para nós a amiga/professora Terezinha Hueb de Menezes ocupa, de agora em diante, eternamente um lugar de destaque no nosso mundo interno, no nosso inconsciente, na nossa vida onírica.
(*) Psicóloga e psicanalista