ARTICULISTAS

Sobre a curiosidade infantil

As crianças, inevitavelmente, tratam seus pais como se eles fossem experts na vida. Eles, e outros adultos, são as pessoas com quem a criança aprende

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 07/04/2010 às 20:56Atualizado em 20/12/2022 às 07:12
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As crianças, inevitavelmente, tratam seus pais como se eles fossem experts na vida. Eles, e outros adultos, são as pessoas com quem a criança aprende o que é necessário. Mas a quantidade de coisas que as crianças demandam aos adultos e das quais eles não têm como dar conta não é suficientemente ressaltada. É, por exemplo, claro para todos que os adultos são incapazes de responder, de forma ainda que minimamente satisfatória, a várias perguntas das crianças. Os assim chamados fatos da vida não chegam a representar uma resposta convincente - para ninguém - às perguntas de por que as pessoas têm sexo ou de onde vêm os bebês. Os adultos podem educar as crianças - não há mais ninguém para fazê-lo - mas eles não têm as respostas, nem para si próprios. (Embora estejam na posição paradoxal de decidir o que constitui uma resposta). O que podem fazer é contar histórias às crianças a respeito das conexões entre a curiosidade e a educação, entre desejo e bem-estar.

         As vontades das crianças, no começo, são constituídas - respondidas e articuladas - pelos adultos que delas cuidam. Eles acrescentam as palavras às coisas (como gestos e chiados). Os pais da criança ou os adultos responsáveis são os árbitros de suas intenções, seu primeiro contato com as autoridades. O choro do bebê tem que ser interpretado e pode errar o alvo. O bebê pode, por exemplo, às vezes ser alimentado quando não está com fome (e se sempre se alimentar quando não está com fome, mas apenas algo perturbado, pode desenvolver uma ideia de que - um si mesmo virtual que acredita que - o que sempre quer é comida). A arte de bem educar uma criança está na capacidade do adulto de articular adequadamente o sentir do infante a uma palavra capaz de apaziguar corretamente o referido sentimento. Mas, é bom aproveitar as experiências de outros: apesar de um certo incômodo ela pensou que havia chegado a hora de revelar os enigmas da vida para sua filhinha, depois de ser questionada sobre “de onde vêm os bebês”. Sua resposta adequadamente decorada com antecedência deu-lhe a convicção de tudo estar conforme o programado. Depois de algum tempo percebeu a surpresa e a interrogação ainda estampada no rosto da pequena. Ao final sua filha revelou o motiv a Mariinha me disse que ela veio da Rússia!

(*) psicóloga e psicanalista

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