Preâmbul a partir da eleição na ALTM direcionei meu pensamento para o Discurso de Posse. Nestes primeiros dias de acadêmica reparei na “brincadeira” recorrente entre meus amigos e familiares sobre a questão da imortalidade. Da pergunta: “o que você sente dormindo com uma imortal?” ou da afirmaçã “agora você é imorrível!” ou ainda “nada como ser amiga de uma imortal!”. Várias situações, insinuações, suposições sempre em torno da imortalidade. Como psicóloga até poderia dizer que, sendo a morte o inaceitável e estrangeiro em nós, quando se pensa na vida e no desejo onipresente e indestrutível de viver, a possibilidade da imortalidade atrai, vincula e exalta. Aos poucos fui percebendo que o tema da imortalidade se fortalecia e eu poderia focá-lo em diferentes configurações: conceitual explicativo, filosófico moral e na linguagem...
Na medida em que me familiarizava com as regras e rituais de admissão adentrando à Academia pude valorizar ainda mais a questão da imortalidade. Meus estudos sobre a vida e obra dos meus antecessores – irmã Maria Domitila Ribeiro Borges e professor Leonardus Paulus Smeele, iniciados para incorporá-los na minha fala inaugural, mostrou-me que eles também entrariam na minha vida, pois daqui pra frente eu os representaria entre os confrades, mais ainda em relação ao patrono da “Cadeira de número 30”, o poeta simbolista Cruz e Souza. Assim, a questão da imortalidade tomava um aspecto até mesmo religioso, pois meus antecessores e patrono continuavam presentes e participantes acadêmicos através de mim que os representava e, minha fala deveria ecoar seus sons e ideias precedentes.
Posteriormente, uma declaração de amor à linguagem e às palavras feitas pela irmã Maria Domitila completaria o sentido da imortalidade e o rumo da minha fala: o sentimento de amor nas suas características de ser “presente eterno” já que não o falamos no passado ou no futuro. Assim resolvi meu discurso abordaria a imortalidade, a poesia, a prosa e o amor, que vocês acompanharam nestas últimas semanas. Agora é o tempo de concluí-l
“Até ontem julgávamos que a imortalidade pertencia ao campo do impossível. Hoje celebramos minha entrada neste seleto grupo de imortais. A obra é o que explode a barreira da impossibilidade: aquele traço deixado nas cavernas, o diário de uma jovem, uma escrita em prosa ou versos. O autor fundido à sua escritura adquire assim sua característica - a imortalidade. Além disso, o amor que se cristaliza no presente, inconformado de ser passado ou futuro, esbarra no eterno ampliando a própria imortalidade. Se escrever é amar a língua e por escrever o homem se imortaliza, essa imortalidade tem assento no amor e acontece na escritura donde concluímos que ser imortal é demonstrar uma paixão amorosa pela língua. A obra e seu autor, o amor e a imortalidade, uma experiência do eterno. Obrigada a todos pela presença.”
(*) Psicóloga e psicanalista ilceaborba@netsite.com.br