ARTICULISTAS

Sobre as bases do amor materno

Muito se tem escrito sobre as relações entre filhos/mães neste mesmo sentido: quais os sentimentos vividos pelos filhos no seu contato com a mãe

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 12:54
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Muito se tem escrito sobre as relações entre filhos/mães neste mesmo sentid quais os sentimentos vividos pelos filhos no seu contato com a mãe; inversamente os sentimentos maternos em relação aos filhos têm recebido escassa atenção dos autores e teóricos do tema e é essa nossa preocupação no momento. Acredito que desta forma poderemos iniciar um diálogo profícuo que talvez finalize por abordar a questão do inato ou adquirido quanto à maternidade: existe um instinto materno?

Encontramos muitas mães que se alegraram verdadeiramente com a ideia de que um filho iria nascer e, no entanto, ficam decepcionadas quando ele nasce e não experimentam verdadeiro sentimento de amor materno. Se esse sentimento aparece, no entanto, mais tarde, tem-se a impressão de que não são tantos os fatores fisiológicos, mas os psicológicos que desempenham papel decisiv uma certa compaixão, a convenção que exige amor por parte da mãe, e outros. Por outro lado, seria de esperar que o amor materno aparecesse imediatamente após o nascimento ou mesmo antes. Ora, esse não é o caso. Ao contrário, a ausência de amor materno frequentemente se exprime pela recusa em amamentar a criança, ou pela intenção de não ficar com ela. Se, no entanto, consegue-se, através de algum truque qualquer colocar a criança no seio da mãe, é frequente que ela não queira mais se separar da criança.

A ausência de amor materno pode se apresentar sob outra forma e se expressar por atos diretamente hostis em relação à criança; na nossa vida social, ganham, por um lado, a forma de infanticídio e, por outro lado, de sevícias exercidas sobre a criança. É surpreendente ver que o infanticídio se produz, em geral, com o primeiro filho e mais frequentemente no caso de a mãe sentir aversão particular pela criança (por exemplo, porque o pai a abandonou). Em geral, o primeiro e o último filho ocupam posição especial: o primeiro, por suscitar na mãe afetos hostis os mais violentos (ele é geralmente criado mais severamente em função disso); o mais novo, por suscitar afetos positivos os mais intensos, é com frequência mimado e estragado. São esses casos de amor materno e angústia excessivas que nos possibilitam concluir que “não existe amor materno inato”. Parece que é por meio da interação física entre a mãe e o bebê que é suscitado o amor materno. Supõe-se que os primeiros sinais de amor materno surjam na época dos primeiros movimentos do feto. Com a saída da criança, esse sentimento é perdido e é talvez aí que comece a aversão da mãe. Por outro lado, a subida do leite aos seios e a própria amamentação vêm acompanhadas também de sensações prazerosas. Ao todo pode-se dizer que as sensações do bebê devem encontrar um correlato nas sensações correspondentes da mãe. Se supomos a existência do complexo de Édipo na criança, ele tem sua origem na excitação prazerosa provocada pela mãe; esta excitação pressupõe uma sensação igualmente erótica por parte da mãe.

(*) psicóloga e psicanalista 

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