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Sobre o direito de ser criança

Nos anos 30 destacava-se entre os inúmeros pretendentes

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 05/12/2012 às 20:01Atualizado em 17/12/2022 às 09:10
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Nos anos 30 destacava-se entre os inúmeros pretendentes à carreira artística pelo grande sucesso alcançado nos filmes hollywoodianos uma atriz mirim – Shirley Temple. Criança prodígio, lançou vários títulos tornando-se conhecida internacionalmente por suas atuações onde interpretava, dançava, cantava e sapateava, contracenando com grandes atores e atrizes da época. O que nos impressiona sobremaneira é sua aparência de uma pequena adulta tanto que um dos comentários singulares sobre ela divulga que na verdade ela era uma anã se passando por uma criança. A vida artística prematura e de grande repercussão nos meios cinematográficos restringiu sobremaneira sua vida infantil e sua convivência social no grupo de iguais. Seguia disciplina rígida tanto no tempo que antecedia as filmagens como no restante. Para manter os 56 cachos do seu penteado em perfeita ordem não podia lavá-los livremente ou mesmo molhá-los. À noite dormia de toca e cheia de grampos. As ressonâncias ulteriores em sua vida pessoal são conhecidas: rejeição profunda e estendida de toda pequena modificação em sua imagem decorrente do esperado e inevitável crescimento, sentimento reacional de perda de identidade, expectativas exacerbadas sobre seu futuro, decepção e culpa.

As crianças de hoje, enquanto presas fáceis das armadilhas de marketing midiático consumista, apresentam-se como pequenas adultas na forma de vestir, calçar, pentear e maquiar. Grifes infantis seguem as mesmas tendências, mutáveis a cada estação, da moda em geral, e as novas consumidoras escolhem sapatos de salto alto, cabelos alisados e coloridos, esmaltes de cores fortes e batons. Como a moda ditada é uma só para todas as idades cria-se uma ilusão que nega o tempo e as diferentes etapas da vida provocando ainda uma hiperfeminilidade. Esta se traduz no vestuário, por excelência, ao criar uma função de máscara. Através das transparências, das malhas largas, abertas ou redes, o vestuário mostra que está escondendo alguma coisa. Ele não mostra o que esconde, mas mostra que existe algo escondido ou a esconder. Vestir e maquiar fundem-se no propósito de produção. Produzir um jogo de sedução, de amor e carinho que acaba por esbarrar no desespero de fazer-se ver!

Desde sempre, desde a mais tenra infância, agora mais do que nunca, a mulher se sente aprisionada no fazer ver, no pedido de um olhar, mesmo que este olhar seja perverso dirigido a desvendar o ilícit a sexualidade intimista de dois, publicada em seguida, nas redes sociais.

(*) Psicóloga e psicanalista

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