Recentemente observei um evento altamente significativo do relacionamento de um bebê
Recentemente observei um evento altamente significativo do relacionamento de um bebê de sete meses e sua mãe. Naquele momento o bebê estava no colo do pai entre choramingos e impaciência, lutando para não dormir – algo habitual entre eles porque vivem uma grande necessidade de observar o mundo e as pessoas ao redor, para melhor compreender e se adaptar. Num dado momento, o neném exibe uma expressão facial característica com uma leve torção da cabeça e do rosto para trás, para sua esquerda e para baixo, ao mesmo tempo em que desce as pálpebras. Diante dessa cena a mãe diz: Ele está com vergonha!...
Este fato nos mostra uma mãe na sua função de interprete e porta-voz do seu bebê tão bem teorizados por Piera Aulagnier – Um interprete em busca de sentido -, o código linguístico está totalmente no mundo externo e deve ser, desde o início, apresentado gradualmente ao neném, na medida do seu interesse ou ações. Não temos condição de verificar se a interpretação dada pela mãe realmente representa o sentimento do seu filho, mas temos certeza de que a mesma constituirá, para sempre, o seu aparelho psíquico em processo de formação.
Pais saudáveis funcionam como guias e interpretes para a criança no ato de percepção, bem como no entendimento daquilo que está sendo percebido e sentido – permitindo-lhe uma liberdade crescente de ver, escutar, sentir e interpretar, para si mesma, as coisas percebidas. Caso contrário, quando os pais são ambíguos, oscilando de maneira imprevisível e impossibilitando à criança a construção de quadros confiáveis e consistentes do mundo à sua volta, o processo de individuação deste novo ser estará comprometido. Se os pais não são suficientemente fortes para abdicar de sua fantasia de onipotência, de seu estatuto simbiótico (dois que são um), portanto não conseguem se ajustar à evidente limitação do poder do verdadeiro ser humano não conseguirão tão pouco introduzir seu filho na verdadeira dimensão humana da castração e do limite.
A confusão psicotizante nada mais é do que o pânico crônico vivido por aquele que vive a dor do desespero por encontrar princípios organizadores confiáveis que tornem significativas e utilizáveis as percepções caóticas que o assaltam, já que não dispõe de meios confiáveis para saber se o que percebe faz parte de seu mundo interno da fantasia, ou se é parte do mundo externo, do mundo real; se se trata de algo que existiu no passado ou se é do presente ou, talvez do futuro!
(*) Psicóloga e psicanalista