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Suicida: mensageiro da culpa

O suicida é um morto que condena seus próximos ao eterno sentimento de culpa. Seu ato é uma mensagem em código, por isso é recebida por todos e cada um que fazem parte do seu círculo

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 04/11/2009 às 19:32Atualizado em 20/12/2022 às 09:42
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O suicida é um morto que condena seus próximos ao eterno sentimento de culpa. Seu ato é uma mensagem em código, por isso é recebida por todos e cada um que fazem parte do seu círcul amigos, parentes, família. Quando acontece um suicídio procura-se sempre pelo texto que ele deixou explicando os motivos de tal ato, mas, às vezes este texto não existe ou ainda não explicita claramente os motivos da ação extrema. Assim, o gesto que permanece cercado de segredo pode ser uma provocação ou mesmo uma ostentação.

O suicida também é o desafiante absoluto. Desafio aos vivos por recusar uma existência que ele julga insatisfatória ou intolerável. Desafio aos mortos, aos quais vai se reunir com uma pressa incompreensível. Desafio a Deus, já que nega sua própria Criação, e é por isso que o catolicismo considera o enforcamento de Judas Iscariotes um pecado sem remissão.

É importante considerar ainda os sentimentos opostos de admiração e desprezo que o suicida desperta nos homens: desprezo porque é visto como covardia (Que covardia fugir à luta da vida); admiração porque é também visto como coragem (Que coragem passar à ação).

Durkheim amplia a discussão quando diferencia os suicídios mediatos dos imediatos, assim os primeiros acontecem numa relação mediata entre o ato e seu resultado; e os segundos quando há um maior espaço de tempo entre a ação e sua consequência. Aliás, há poucas mortes que não são a consequência próxima ou longínqua de procedimentos suicidas, basta lembrar de todos aqueles que desafiam os perigos no volante ou nos esportes radicais, aqueles que decidem não mais se alimentar ou ainda os que insistem num estilo de vida ansiogênico e tencional. A diferença é que nuns casos a vítima é o agente de seu próprio falecimento e noutros em que a vítima “só inconscientemente” é o agente.

O suicídio é um ato exclusivamente humano; não se pode falar em suicídio animal, pois o animal não tem consciência de si mesmo; ele não pode renunciar à sua existência nem tampouco ter uma representação de sua morte. O animal luta sempre por manter sua vida, seu único objetivo é conservar-se como também sua própria espécie. Já o homem tem consciência de si, pode recusar sua existência, mas também não imagina sua própria morte. Quando isso acontece e ele se vê morto, no caixão sendo velado, ou ainda enterrado, na verdade ele está vivo assistindo seus funerais; pode também estar identificado com alguém que se encontra na cena imaginada. Quando esta identificação é revelada desfaz-se o segredo do morto.

 

(*) psicóloga e psicanalista

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