A SÍNDROME DA TENSÃO PRÉ-MENSTRUAL vem integrar o rol das novas síndromes e transtornos psíquicos, os quais têm sido catalogados e, até mesmo, reinscritos com novos nomes e que, em seu caráter de atualidade, referem-se indiretamente ao “mal-estar” que assola o homem moderno.
Porém, entre tantos distúrbios de ansiedade, pânico, humor, dos quais os sujeitos deste início de século são vítimas, a Síndrome da Tensão pré-menstrual destaca-se por constituir um mal exclusivamente feminino. Um mal que manifesta seus efeitos, através de distúrbios psíquicos desencadeados a partir de um processo biológico normal, o ciclo menstrual.
A STPM marca uma diferença sexual.
A “síndrome da mulher moderna” hoje se faz presente no discurso comum através do reconhecimento de alterações psíquicas diversas, que manifestam-se de forma cíclica e que são observadas, mesmo por mulheres que não têm um diagnóstico médico, mas que vivenciam um aumento de suas dificuldades emocionais no período que antecede a menstruação.
Curiosamente, a menstruação que, décadas atrás, consistia ela mesma no motivo de queixa feminina, devidos aos sintomas dolorosos que lhe são associados, tornou-se algo ansiosamente esperado pelas mulheres de nossos dias; desesperadamente esperados, poderíamos dizer. Os sintomas, as queixas femininas, não se referem mais ao corpo, em seu sentido físico, como lugar de dor, mas a alguma coisa que lhes escapa, e que só lhes é possível viver como um estado psíquico; uma certa disposição interna que, alternando-se, é capaz de alterar sua relação com o mundo.
Tais relatos incluem desde um aumento da sensibilidade, um “magoar-se por qualquer coisa”, uma irritabilidade geral, até expressões de angústia profunda, depressão e explosões de ódio. Estas últimas, ocorrendo em crises incontroláveis, levam as mulheres a praticar atos irracionais, agressões físicas e verbais, comprometendo, em certa medida, segundo elas mesmas, o juízo de realidade.
Particularmente em relação a este aspecto de descontrole emocional, as pacientes expressam angústia e temor, pois percebem que são capazes de chegar a ações extremamente destrutivas, pondo em risco a estabilidade de seu mundo pessoal.
A ocorrência da síndrome, que pode ser observada durante toda a idade fértil, tem suas manifestações mais severas datadas a partir dos 30 anos, seguindo-se a afirmação de que “a maior parte das mulheres já sentiu ou sentirá seus efeitos pelo menos uma vez na vida”. Tal observação promove a STPM ao estatuto de mal irremediável; um sofrimento quase coletivo que desvinculado de qualquer subjetividade possível, não teria outra saída senão ser absorvido pela cultura.
O que se evidencia através da escuta de pacientes, sob estados mais críticos de tensão pré-menstrual, é que ansiedade, irritabilidade excessiva, sensibilidade exacerbada, pessimismo extremo, sentimento de fracasso, depressão, impulsividade incontrolada, perda da capacidade de julgamento, agressividade, vão articular-se num discurso em torno do ódio. Ódio por seus companheiros, em primeiro lugar, pronto para explodir ao menor descuido. Ódio indefinido por qualquer um que possa provocá-lo. Ódio por suas mães e por si mesmas. No caso dessas últimas, especialmente quando não têm filhos ou vivem solitárias, o ódio transforma-se em med medo de destruir, de matar, de matar-se, de enlouquecer.
(*) psicóloga e psicanalista