Quem não se lembra daquele excelente roteiro – Melhor Impossível – e da magistral interpretação do Jack Nicholson?
Quem não se lembra daquele excelente roteiro – Melhor Impossível – e da magistral interpretação do Jack Nicholson? Esta é uma representação paradigmática do “Transtorno Obsessivo Compulsivo”: uma pessoa com grandes dificuldades no relacionamento afetivo e que desenvolve uma série de rituais comportamentais – usar o sabonete apenas uma vez na lavagem de suas mãos e com água muito quente (revelando assim fantasias de contaminação), levar seus próprios talheres para o restaurante onde toma regularmente suas refeições, só admitir ser atendido por uma determinada garçonete, estar sujeito a explosões de raiva pelo menor obstáculo na satisfação das suas vontades, não conseguir pisar nas linhas divisórias dos passeios públicos, ter mania de limpeza e ordem.
O filme também mostra a dinâmica complicada que ele estabelece na relação amorosa uma vez que dá o melhor de si mesmo que paradoxalmente é absolutamente nada (tudo no sentido que ele pode tudo sacrificar; nada na medida em que não aceita perder). O obsessivo acredita que deva tudo controlar, isto é neutralizar todos os sinais exteriores de uma demanda ou desejo tanto em si mesmo quanto por parte do outro. Para ele seu par amoroso deve ocupar o lugar do morto – se o outro está morto, ele não deseja e, assim o obsessivo fica tranquilo na medida em que o desejo é sempre desejo do desejo do outro – condição única que permite a seu próprio desejo não encontrar nenhuma inquietação.
O obsessivo desenvolve uma estratégia que consiste em se apropriar de um objeto vivo (no sentido psicanalítico de objeto) para transformá-lo em objeto morto e cuidar para que assim permaneça. Para tanto, ele pode enfeiá-lo, transformando-o em objeto cada vez mais indesejável; ou, ao contrário, enfeitá-lo tanto que o brilho conseguido não possa senão refletir-se imaginariamente sobre o proprietári um homem que presenteia sua mulher com joias caras e belíssimas mostra a todos sua riqueza pessoal e sua generosidade.
O parceiro amoroso de um obsessivo fica instalado, normalmente, em um lugar magnífico, desde que não manifeste nenhum desejo, pois se assim o fizer ele estaria apontando para uma falta inaceitável: se sou tudo para ele, nada lhe falta na medida em que eu sou capaz de provê-lo de tudo. Este transtorno se funda na melancolia saudosista de ser, anteriormente, tudo para a mãe.
(*) psicóloga e psicanalista