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Toda memória possibilita a imortalidade

Os primeiros colonos portugueses vindos

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 24/04/2013 às 20:03Atualizado em 19/12/2022 às 13:26
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Os primeiros colonos portugueses vindos para a efetiva posse das terras brasileiras, em nome da coroa, definiram os índios que aqui viviam como humanos apenas na aparência, mas verdadeiramente bárbaros ou mesmo feras. Foi necessário um decreto real em 1537 para mudar esta visão que, no entanto, sofreu apenas uma pequena reformulaçã os ameríndios são bárbaros pelos seus costumes; não têm leis, reis ou crença religiosa que lhes possa controlar suas ações delimitando espaços privados e bens comuns garantindo-lhes também o direito à vida e à propriedade. Esta crença sustentava o poder de escravizá-los para seus serviços e para seus usos.

O ideal da catequese trouxe também ao Brasil recém-descoberto os missionários jesuítas e com eles novos desafios: catequização dos ameríndios sem perda dos ideais da instituição a que pertenciam – a pobreza e a humildade como valores maiores e a manutenção missionária conseguida pelas esmolas recolhidas na comunidade onde se inseriam pelos próprios padres, no trabalho laborioso de pedi-las de porta em porta.

Zeron, Carlos Alberto de Moura Ribeiro – Linha de Fé – A Companhia de Jesus e a Escravidão no Processo de Formação da Sociedade Colonial (Brasil, Séculos XVI e XVII), tese que lhe outorgou o título de Doutor pela USP, relata que a vestimenta dos índios é um tema recorrente na correspondência dos missionários enfrentando a situação constrangedora e até mesmo hilárica de receber para a missa ou outras cerimônias religiosas as índias nuas. De acordo com um trecho de carta escrita por Manuel da Nóbrega – “parece que andar nu é contra lei de natureza e quem não guarda peca mortalmente...” Ao mesmo tempo o autor encontrou nas correspondências analisadas a coincidência questionável destas preocupações - a nudez dos ameríndios – estarem sempre próximas dos temas da escravidão indígena. Se os colonos portugueses desejavam enriquecimento rápido e fácil, aos missionários cabiam as tarefas da evangelização e da sustentação econômica da missão, a mão de obra existente previamente era o ameríndio, assim tanto uns quanto  outros lutavam pela escravidão; aqueles claramente estes indiretamente através da argumentação de que a pobreza reinante não permitia resultados eficazes nas doações espontâneas, extremamente necessárias frente aos parcos recursos recebidos diretamente da coroa. Aos poucos os indígenas mostraram seus limites: o contato com os europeus trouxe-lhes doença e morte e a mudança de estilo de vida necessária aos trabalhos provocou fugas em massa e até mesmo negação das crenças religiosas recentemente adquiridas.

Para os jesuítas, a salvação dos indígenas estava na decorrência da assimilação dos valores e crenças veiculados pela Ordem, aqueles que não vestissem os hábitos e não abandonassem seus próprios hábitos inclusive de andarem nus estavam perdidos para sempre! Muitos séculos depois a nudez e alguns maus costumes adotados pelos brasileiros levariam à condenação eterna, pelos jesuítas de então, inúmeros herdeiros destes povos primitivos e deste vasto continente!

(*) Psicóloga e psicanalista

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