ARTICULISTAS

Trabalho feminino: perda ou conquista

De tempos em tempos é importante uma parada reflexiva para a compreensão das mudanças sociais e suas consequências. É inegável a nova estruturação do perfil e papel feminino na sociedade produtiva

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 10/02/2010 às 00:46Atualizado em 20/12/2022 às 08:11
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De tempos em tempos é importante uma parada reflexiva para a compreensão das mudanças sociais e suas consequências. É inegável a nova estruturação do perfil e papel feminino na sociedade produtiva. Nosso olhar para o passado revela-nos uma mulher “protegida” do corre-corre profissional, afastada das sobrecargas duplas ou até mesmo triplas de responsabilidades atuais, quando é desafiada na mesma proporção que os homens no mercado do trabalho a procurar novas habilitações, novos conhecimentos e renovações constantes e que aquela cuja esfera de atuação se restringia ao espaço seguro e protegido dos muros do seu lar.   No entanto, se abrirmos o portão e adentrarmos a casa, encontraremos mulheres angustiadas, restringidas pelos parcos recursos vindos do provedor familiar e interditada de ser ativa ou de ter rendas apropriadas aos seus dons naturais. Conversando com estas mulheres, descobriremos que algumas delas, mesmo sendo exímias bordadeiras – este então seus dons a oferecer ao mundo –, eram proibidas de vender o produto das suas mãos habilidosas. Elas poderiam dedicar esses trabalhos à Igreja ou a alguma instituição religiosa, nunca em troca merecida por dinheiro, mesmo que elas sentissem na própria pele e de seus filhos o quanto este dinheiro extra os beneficiaria. Podemos considerar uma proteção do homem à mulher? É mais sensato considerar que a proteção era propiciada ao próprio homem, que assim não se colocaria na incômoda situação de competição com sua própria esposa e, talvez, se sentisse inferiorizado caso a renda dela fosse maior que a sua.   No entanto, esta mudança também trouxe angústia extra, pressões tanto pessoais quanto sociais para o melhor desempenho e, de quebra, o conflito permanente entre os papéis de mãe, esposa e profissional. A atualidade revela o feminino como o lugar e o modelo da sensação incômoda e culposa do distanciamento entre o ser e o estar: se de bem consigo mesma na sua totalidade fatalmente em guerra com o passado, em ruptura inexorável com as mulheres de antes, com todas aquelas que a precederam e que aguardavam continuidade e permanência. Estar em acordo com o seu presente; ser em acordo com seu passado.

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