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Trabalho versus capital

Da admiração às grandes catedrais magnificamente decoradas com o que de mais precioso temos no mundo...

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 02/05/2012 às 08:21Atualizado em 17/12/2022 às 08:56
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Da admiração às grandes catedrais magnificamente decoradas com o que de mais precioso temos no mund ouro, prata e pedras preciosas, obras de arte de renomados pintores e escultores, mármores especiais de longínquas e raras extrações, madeiras de excepcional qualidade... nasce a pergunta sobre os motivos que levaram gerações de financiadores, construtores, artistas e artesões a dedicarem sua vida na confecção e decoração destas famosas “Casas de Deus”.

Baseados nos textos de Enriquez (1990), refletimos que a culpa do pecador, sempre em falta, e a relação individual de cada ser humano com seu Deus mediada pela condição de membro da Igreja, corpo de Deus para os cristãos, são heranças ainda presentes na cultura humana em pleno século XXI. Pela culpa, o homem recalca e reprime as pulsões eróticas que se canalizam no trabalho produtivo e na proliferação artística. Para a moral cristã, a produção é um serviço. Não se trata de aumentar indefinidamente as riquezas: os bens de produção favorecem aos produtores viverem frugalmente e permite o consumo suntuoso dos nobres, assim como a construção das catedrais e das abadias (cada uma mais bela do que a outra) a serviço de Deus.

O monoteísmo também faz surgir o indivíduo ao mesmo tempo em que a universalidade da mensagem é dirigida a todos. Cabe a cada pessoa individualmente (e não coletivamente como nas sociedades arcaicas) agir para a sua salvação. Se o homem pode tanto fazer o bem como o mal, ele deve provar, continuamente, sua fidelidade a Deus e trabalhar para o seu triunfo. Nesse momento, abre-se espaço cultural para as grandes obras religiosas, que consomem vidas laboriosas, recursos produtivos e magnificências artísticas – a era das grandes catedrais e abadias.

Calvino e Lutero rejeitam o mérito pessoal e as grandiosas obras sacras. Transformam a percepção da riqueza que não deve ser desperdiçada, como faziam os católicos para aumentar a glória de Deus, mas, ao contrário, deve ser acumulada. O dinheiro (transformando-se em capital) não somente se revela como uma nova divindade, mas como revelador da potência viril: o dinheiro tendo esta característica de poder se reproduzir por si próprio (pelo jogo bancário ou pela bolsa), sem que apareça nenhuma criação de novas riquezas.  Assim o sagrado transcendente cede seu lugar a um sagrado profan o dinheiro; e o homem já não constrói igrejas maravilhosas. Aquele se torna a marca da expressão narcísica do indivíduo confundido com seu papel de empreendedor.

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