Tudo novo na nova contemporaneidade

Casamentos são desfeitos, rendimentos financeiros são diminuídos, empregos são perdidos... Para cada risco atual a sociedade se organiza de forma inovadora na busca de soluções; assim, a mulher saiu do espaço restrito familiar para o mundo profissional, tentando complementar financeiramente o orçamento doméstico bem como estruturar-se como indivíduo independente e mais seguro. Uma nova família se configurou, onde tanto a mãe quanto o pai têm atividades dentro e fora da família e, assim, as responsabilidades domésticas foram divididas criando um novo perfil da maternidade e da paternidade. O desafio das mães agora é permitir que um novo pai se configure em sua família; consequentemente ao pai cabe ser este novo pai. E de nós, os profissionais de saúde mental, espera-se esclarecimentos orientando sobre a função paterna e a modernidade.

A morte do seu próprio pai permitiu a Freud compreender e formular a teoria do Complexo de Édipo. Numa carta a Fliess, ele escreve que teve um sonho, perto do funeral do seu pai, onde viu, em local público, o aviso – “pede-se que você feche os olhos”. Freud interpreta tal sonho com “cada um deve cumprir seu dever para com os mortos (um pedido de desculpas, como se eu não tivesse feito e estivesse precisando de clemência).” A que Freud precisava fechar os olhos? À generalização do Complexo de Édipo?

Em sua auto-análise Freud reconhece seus sentimentos de amor com relação à sua mãe e seu conflito de sentimentos em relação ao pai – ciúme e amor.

No texto “A dissolução do Complexo de Édipo” Freud responde sua própria pergunta: o que levaria à dissolução do Complexo de Édipo? A resposta é fundada na ameaça de castração ou medo de perder o que é valorizado e importante – isso não se dá de uma só vez, havendo experiências que preparam para perdas de partes altamente valorizadas do corpo. À fase de valorização excessiva de partes do próprio corpo segue-se o investimento em identificações e a estruturação do super-eu. “A autoridade do pai ou dos pais é introjetada no eu e aí forma o núcleo do super-eu, que assume a severidade do pai e perpetua a proibição deste contra o incesto, defendendo assim o eu do retorno da catexia libidinal.” Catexia libidinal é um conceito que se refere ao investimento amoroso ou de ódio nas pessoas e objetos ao redor. Esta é uma síntese do ponto de vista freudiano; continuaremos a seguir com as contribuições lacanianas.

(*) Psicóloga e psicanalista

ilcea@terra.com.br