“Reagiu, é ele ou eu”; “... não tem como me arrepender da morte de um cara que tentou me matar!”; “A adrenalina na hora é muito alta. Se a vítima reagir, não tem conversa!”; “Atirei no coração de um PM durante um assalto porque ele me deu um tiro na perna!”; “Normalmente, as pessoas ficavam assustadas com uma arma na cara e não faziam nada. Mas, dessa vez, aconteceu isso aí!”; “Preferiu morrer do que perder o patrimônio!”; “Só me arrependo porque fui preso. Não pelo fato de ele estar morto!”; “Com a arma na mão, você acha que vai conseguir tudo!”; “Na vida do crime, o que importa é levar o dinheiro, mas, quando a vítima reage, bate o medo de morrer. Se reagir, a gente senta o dedo no gatilho mesmo!”; “Melhor a mãe deles chorar do que a minha!”; “Com a cachaça na cabeça, não pensei em mais nada; peguei um pau e dei na cabeça dele, sem dó!”; “Quando você vai assaltar, é tudo ou nada.”; “Meu parceiro gritou: mata, mata, mata! Descarreguei o revolver. Abri a porta do carro e peguei um notebook que estava no banco de trás!”; “Achamos que era o melhor a fazer!”; “Matei no susto!”; “Me senti satisfeita quando vi que ele estava morto!”; “Ferveu o sangue!”; “Foi um momento de loucura!”; “Resolvi matar o menino porque fiquei com raiva quando o pai dele não quis pagar o resgate!” Nestes depoimentos apresentados aos jornalistas pelos assassinos encarcerados, vemos que os motivos falados são muitos aparentemente, mas, na verdade, apenas revelam em viva-voz o desprezo aos outros e aos seus bens: a vida, o direito de ir e vir em paz, à segurança, ao desfrute do que conseguiram através do esforço pessoal e muita disciplina! Suas palavras também revelam o prazer sentido ao, empunhando uma arma, serem imaginados como os donos do mund aqueles que modificam e impõem a todos suas próprias leis – os realmente poderosos!
A violência dos seus atos define uma forma especial de ser e estar no mund carrascos de si em luta constante contra seus impulsos altamente destrutivos que tendem a expandi-los aos outros e, assim, borrar os limites diferenciáveis entre eles e suas vítimas. Estas observações mostram claramente a que grau de negação da realidade pode conduzir certos encontros com o ódio interior e seu poder disruptivo, acabando, enfim, por nutrir projetos impossíveis. Para o inconsciente, destruir o outro equivale a destruir a mãe (o primeiro outro para todo sujeito) ou, inversamente, ver-se destruído por ela. A violência é ser invadido por uma moção de ódio totalitária que visa apenas a possessão-destruição do objeto.
(*) psicóloga e psicanalista