ARTICULISTAS

Um ato de honestidade!

Contrastando com as outras muitas notícias de fraudes

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 11/07/2012 às 20:45Atualizado em 19/12/2022 às 18:37
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Contrastando com as outras muitas notícias de fraudes, roubos, violências e corrupções, uma cena inusitada: um casal de “sem-teto” encontra uma mala com R$20.000, imediatamente procura uma delegacia para devolver o dinheiro! Pensamos aliviados: ufa! Ainda existem pessoas honestas! Estas não foram corrompidas pela sedução do dinheiro fácil e imposição consumista! Continuando com a novidade, os policiais encontraram os donos da bolsa valiosa e devolveram o dinheiro, em seguida promoveram o encontro entre eles para um desfecho apropriado. O proprietário do restaurante roubado, num gesto de reconhecimento da ação de honestidade irrepreensível, ofereceu ao casal emprego na empresa. Para surpresa de todos, o “morador de rua”, em nome da segurança do casal, agradeceu a oferta, recusando, uma vez que havia recebido ameaças pelos autores do roubo! Entre a surpresa do inusitado e a inquietude do desconhecido, procuramos compreender o comportamento observado.

André Gide – Nos porões do Vaticano – caracteriza os flanantes: aqueles que, totalmente desocupados, passeiam ociosamente pela Paris de então, vagueando sem rumo e sem destino pela cidade. Figuras também imortalizadas por Charlie Chaplin na imagem do hilariante vagabundo em suas andanças e peripécias pela cidade de Nova York, assim como muitos outros que retratam os que optam por uma vida errante e sem posses pelas cidades ou estradas, excluindo-se voluntariamente da vida cultural predominante. Segundo Chevalier & Gheerbant, eles simbolizam as feridas e angustias da psique, como também a pobreza material que disfarça, por vezes, nos contos de fadas, os príncipes, princesas e bruxas. Designam ao mesmo tempo a miséria e a inquietação, ou velam a riqueza interior sob aparências miseráveis, mostrando assim a superioridade do eu profundo sobre o eu superficial.

O caso inicialmente descrito revela na sua recusa de trabalho e estabilidade uma confirmação de escolha anterior definitiva e definidora de uma forma específica de viver: rejeição aos ditames sociais do trabalho, segurança e moradia, levantando questões significativas para as teorias sociais que apregoam como causa do comportamento social desviante a injustiça social quando impede oportunidade de trabalho, segurança e moradia a todos, indiscriminadamente.

(*) Psicóloga e psicanalista

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