Este mal-estar entendemos como uma sensação de padecimento
Este mal-estar entendemos como uma sensação de padecimento, uma reação de infelicidade ou tristeza. O gênero feminino que inclui os papéis de mãe, esposa e dona-de-casa entre outros disponhem-na a estar mais atenta às emoções e sentimentos tanto seus quanto dos outros, especialmente aqueles ligados à dor, ao sofrimento, à frustração, à angústia e à insatisfação, já que sua adequação social está na possibilidade de promover bem-estar a si e aos outros que dela dependem afetivamente.
A psicanalista J. Kristeva descreve os estados depressivos como “um abismo de tristeza, dor incomunicável que às vezes nos absorve, em muitos casos durante longos períodos, até perdermos totalmente o gosto pela palavra, pela ação, pela vida mesma”. Esta autora distingue três estados bastante diferentes: um, a melancolia grave, que se manifesta por uma lentificação das funções psíquicas, tantos ideatórias como motoras; pela extinção do gosto de viver, do desejo, da palavra, pela suspensão de toda a atividade e por uma atração irresistível ao suicídio. Outra forma menos grave desta dormência que alterna frequentemente com estados de excitação, consiste num tipo de estado neurótico chamado depressão. Por último a melancolia seria como um “vazio na alma”, um spleen, uma nostalgia, cujos ecos aparecem na arte e na literatura, e que sendo uma enfermidade, reveste frequentemente o aspecto sublime da beleza. Para Kristeva “o belo nasceu no país da melancolia”. Ela também denomina “conjunto melancólico-depressivo” o que se caracteriza pelo bloqueio entre os nexos – a ruptura das relações, o desinteresse por tudo, e a desvalorização da linguagem: o discurso da pessoa deprimida pode ser monótono ou agitado, mas a pessoa que fala dá sempre a impressão que não crê no que fala, ou de não falá-lo, de estar, enfim, fora dele – ela está na torre secreta da sua dor, sem palavra.
Um outro ponto de vista muito difundido é o que segue o modelo médico que relaciona o mal-estar feminino ao funcionamento hormonal, assim a labilidade do humor, a tristeza e também a agressividade ocorreriam nas mudanças hormonais do ciclo, apesar da dificuldade de comprovação científica.
Já Mabel Burin explica o mal-estar feminino com a adesão irrestrita do gênero feminino à norma em sua cotidianidade, tendo como base a noção acerca da construção de sentido que as mulheres dão a determinados fatos da sua vida, o que impediria qualquer tentativa de patologização ou explicação sociopsicológica.
(*) psicóloga e psicanalista