ARTICULISTAS

Um povo, uma moeda

Estamos no olho do “tornado”. Vivemos época caótica econômica e política. Sofremos...

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 30/03/2016 às 20:46Atualizado em 16/12/2022 às 19:32
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Estamos no olho do “tornado”. Vivemos época caótica econômica e política. Sofremos consequências do que não plantamos. Sem saber do que se trata, não conseguimos defesa efetiva. Se somos seres políticos, não somos suficientemente politizados e, portanto, não dominamos a situação. A imagem mais adequada é de uma pluma que voa ao sabor do vento para todas as direções possíveis, às vezes num sentido e logo em seguida no seu contrário. A única saída é a busca da compreensão e do saber, para enfim sentirmos que temos a direção da vida de novo em nossas mãos.

Foi pensando assim que resolvi buscar informações sobre economia e, ao entrar numa livraria, fui atraída para um livro da economista e jornalista Miriam Leitão – “A Saga Brasileira: a longa  luta de um povo por sua moeda”.  A autora havia me conquistado na Fli Araxá, com suas ideias claras, muito bem apresentadas e defendidas, capazes de abordar noções econômicas obscuras para os não adeptos, de forma totalmente acessíveis.

O livro não me decepcionou e pude aprender, compreendendo fatos, decisões e consequências. Da noção de moeda – uma abstração sem nenhum sentido de realidade – aos famosos planos econômicos heterodoxos que vivemos desde 1975 até 2002 e os dias atuais, com a volta apavorante de uma doença que havia sido superada.

Quem não se lembra da imagem do então Presidente da República – o primeiro depois da ditadura – José Sarney, em horário especial na televisão, tentando apresentar as mudanças econômicas advindas de um plano para a contenção da escalada inflacionária, na oportunidade, perto de uma superinflação. O plano pregava congelamento de preços e tabelas de preços elaboradas pelo governo e teve como resultad farra consumista – o dinheiro passou a valer e se manter durante todo o mês. Em seguida, o desabastecimento, as prateleiras vazias, e o povo agora tinha dinheiro forte, mas não tinha o produto, a relação dinheiro possibilidade de compra foi para os ares, o remédio não fora capaz de curar a doença, a alegria durou pouco! Os ajustes do plano também não efetivaram resultados e, mais uma vez, o povo brasileiro penava frente aos desafios de manutenção estável diante de tanta instabilidade. Como se equilibrar em cima de tremores e terremotos?

Mais uma eleição e o eleitorado foi seduzido por promessas de ordem, estabilidade e “mãos limpas” com a coisa pública. A era Collor havia começado! E aquele que prometera preservação de poupança e respeito ao povo confiante e depositário das suas economias nos bancos civis, estatais e federais descobriu atônito que sua conta fora saqueada, sua poupança, confiscada, e sua moeda, multiplicada. Um caos econômico! Cruzado e Cruzeiro – duas moedas para circular, sendo que o cruzado ficara retido e o cruzeiro circulava, mas cada brasileiro só contava com Cr$50,00 (cinquenta cruzeiros). (continua)

(*) Psicóloga e psicanalista

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