Alguns animais enxergam no escuro, mas o homem não. O homem precisa da luminosidade do dia ou da luz artificial para ver e perceber com precisão a realidade e assim eleger a atitude correta: aproximar-se ou se afastar de algo ou de alguém. Se ele for usar a visão de algum outro como guia, corre o risco de deixar para este decisões importantes, que poderão inclusive representar grande perigo tanto a si mesmo quanto para a sociedade. A visão pode esclarecer ou clarear o mundo externo, como também o conhecimento é capaz de fazê-lo. Lembrando que o humano não é um mero ser passivo, distante da realidade objetiva, é muito importante ser, ao mesmo tempo, produtor, ator e receptor de mutações conscientes e estranhas, sobrepostas da realidade simbólica e material.
Contemporaneamente, padecemos do forte desencanto e frustração pela ausência de lideranças emergentes em nosso meio social. Além de sua ausência, sentimos outro fenômeno, de imediato – o da domesticação da liderança. Trata-se de subordiná-la à burocratização ou à institucionalização de organizações políticas, educacionais, familiares e religiosas. O excesso de regras, leis e burocracias ou a disseminação da ideologia consumista têm conseguido recalcar e sufocar os gritos dos líderes de mudanças verdadeiras.
Também vivemos uma dificuldade – é que parece que tiramos férias da cidadania-política, com a vitória dos partidos de esquerda. Os políticos profissionais tomaram conta do lócus da política. Há falta de políticos de vocação. Num momento em que mais se toca na morte da utopia, é importante resgatar a dimensão política: inicialmente tomando as rédeas das escolhas com mãos firmes pautadas no conhecimento prévio dos candidatos e suas plataformas governamentais e, depois, no acompanhamento participativo das ações decorrentes dos projetos políticos tão alardeados neste tempo que antecede as eleições.
Pelas pesquisas de opinião, esta próxima escolha segue direção diametralmente oposta ao acima dit a maioria votante dá um tiro no escuro, segue o guia que lhes indica em quem votar, seguindo uma lógica perversa: o PT criou Lula, que criou a Dilma, que criou a Erenice, que criou o Israel, que criou a Capital, e assim sucessivamente... Até quando?
(*) psicóloga e psicanalista