O artigo do J.R. Guzzo – A grande desculpa – me fez lembrar de uma conferência do filósofo Hilton Japiassu, onde, criticando de forma clara e conclusiva os princípios básicos da Teoria Behaviorista, considerou-os demonstração de uma crença de que o homem era uma grande “Caixa Preta”, no sentido de vazia, já que seus comportamentos nada mais eram do que simples respostas aos vários estímulos externos, sem nenhum sinal ou interferência de uma vida interna, anterior e íntima. Para Japiassu, aquela teoria só valorizava aquilo que podia ser observável e seu principal axioma era: o comportamento é o resultado da ação dos estímulos versus as respostas do homem. O que não pode ser observado não existe ou não é importante.
De acordo com esta teoria, a um estimulo qualquer haveria sempre a mesma resposta, sem nenhuma ação concomitante de leis e normas internas, ou ainda de um livre-arbítrio, que promoveriam diferentes condutas, de acordo com a pluralidade de indivíduos. Em outras palavras, o homem seria apenas e tão somente fruto do meio que o cerca. Este poderia fazer dele um líder carismático, um moralizador ético ou ainda um perverso assassino, sem nenhuma contribuição dele mesmo, dos seus valores, ideais, crenças e objetivos de vida.
“...o princípio da responsabilidade individual é algo que se tornou obsoleto (hoje em dia, no Brasil) ou só pode ser aplicado com restrições. ...a responsabilidade pessoal, assim, só deve começar a partir de um determinado nível de renda.” (Guzzo) Winnicott (1963) considera a moralidade como inata. Ela surgirá naturalmente em quem tenha desenvolvido um sentimento interno e genuíno de preocupação com o outro. É a capacidade da criança em sentir compaixão e em estar preocupada com o outro que formam a base do sentimento moral e ético do adulto. Para ele, não faria sentido o “ensino” da moralidade como um conceito que pudesse ser aprendido de fora para dentro, sem nenhuma correspondência interna anterior. Ele faz uma ligação causal entre a moralidade e a capacidade de experimentar senso de responsabilidade e, ainda, a possibilidade de ser o seu verdadeiro próprio eu (self) e continuar sendo.
Em outras sociedades mais desenvolvidas, há menos normas ditando comportamentos. Elas acreditam na capacidade das pessoas de decidir e atuar com base no seu foro íntimo, já que as regras jamais darão conta da singularidade de cada um e a moralidade é algo construído na interação do sujeito com o meio, o tempo todo.
(*) psicóloga e psicanalista