A condição de sujeitos desejantes nos coloca frente à falta, à impossibilidade e ao proibido, já que desejamos o que nos falta, o que está na categoria do impossível porque proibido. Para uma compreensão facilitada do que foi dito precisamos remontar à fonte conceitual de desejo, onde sabemos que aquela primeira marca de prazer pleno vivida num momento especial da etapa oral do desenvolvimento – a amamentação – é a experiência que buscamos reativar e reencontrar, inutilmente, durante toda a vida donde a condição de impossibilidade, interdito e falta do desejo.
Mas, o homem também experimenta possibilidades: tudo aquilo que é demandado e cujo alcance depende pelo menos em parte da nossa ação voluntária, consciente. Assim se não se pode viver novamente aquele prazer original experimentado com o seio materno, pode-se querer e conquistar alguém para ser o companheiro(a) amoroso de uma existência e, sucessivamente tantas outras demandas que são eleitas numa vida.
Relacionando esta característica fundante humana (desejos e demandas) com a maneira única do homem de contato com a realidade – que se dá através da alucinação imaginária – concluímos que o psiquismo alucina tudo aquilo que deseja ou demanda. Exemplificand se ocorre uma necessidade física premente durante o sono (sede) esta se intromete no sonho como dramatização do ato de tomar água – o sujeito se vê ingerindo o líquido, embora a sede não diminua até que o sono é interrompido e aquele que dormia se levanta para tomar água. É assim o funcionamento do aparelho psíquico, onde o contato com a realidade se dá através do imaginário e, de acordo com as leis do desejo/demanda.
Depois de todo este preâmbulo chegamos à razão deste artig tudo aquilo que nos falta e passe a pertencer à categoria do desejado/demandado em determinado tempo é alucinado como conseguido ou sendo, e, só nos resta concluir que a mentira é a verdade do desejo. No espaço/tempo psíquico o limite entre o imaginário e o real, entre a verdade e a mentira se borra porque o homem é capaz de representar internamente tudo que lhe é externo dentro da lógica do desejo.
Retomando o exemplo acima se verifica que o corpo com suas necessidades é o último reduto que consegue se opor à onipotência do pensamento, porque o engodo da satisfação alucinatória é logo denunciada pelo próprio corpo, que continua a enviar sinais de desconforto e/ou alarme até que uma outra ação ou objeto venha a ocupar a cena.
(*) psicóloga e psicanalista