Quando você aterrissa em Istanbul e entra no aeroporto
Quando você aterrissa em Istanbul e entra no aeroporto, sofre o primeiro impacto ao se deparar com as mulheres nos seus trajes religiosos. São burcas, xadores, nicabes, hijabs ou simples lenço de seda cobrindo a cabeça e o pescoço; diferentemente dos homens que usam os mesmos trajes do ocidente. Daí em diante você será sempre surpreendido pelo feminino, tanto na aparência quanto no perfil histórico/cultural, pois a mulher turca traz em si as marcas do seu próprio passado na história vivida pelo seu país.
As instigantes visitas pelos palácios do Império Otomano revelam não só as riquezas luxuosas do seu interior, mas também os vieses de uma forma de govern o sultanato e suas leis. Apresentado-nos como significando apenas a intimidade palaciana ou aquela parte protegida porque referente à vida privada do líder turco o Harém, que também era o lugar de moradia das centenas de mulheres entre esposas, concubinas ou odaliscas cuja única função era agradar ao Sultão e, principalmente agradá-lo sexualmente. O Palácio Topkapi chegou a abrigar 1.000 mulheres; todas em regime de cárcere de luxo, com suas vidas restritas aos três pátios internos, quartos, jardins e à sala de banho turco.
Essas escravas chegavam ao palácio, provenientes das guerras de conquistas – saques, butins – ou de doações feitas pela própria família, objetivando a canalização dos desejos do Sultão por meio do fornecimento incessante de virgens estrangeiras ou turcas. Só podemos vê-las como mulheres reclusas cuja presença inflama a imaginação de todos dando um sabor oriental aos fatos.
Os eunucos: brancos e negros – guardavam estrita observação às mulheres e atuavam como elementos de ligação entre o Harém e o mundo externo; cada um com uma função determinada: aqueles vigiavam as portas exteriores e estes as interiores. Todas viviam sob a autoridade da primeira dama do Harém: a mãe do Sultão conhecida como Sultana Validé. Sob a tranquilidade luxuosa escondia-se o sexo prisioneiro e mudo em que todo o mundo pensava, um sexo canalizado por uma mulher velha – Validé – e vigiado por seres híbridos – os eunucos.
Nas visitas do Sultão à sua mãe as odaliscas eram colocadas para servi-lo e quando ela percebia a atenção dele em uma delas esta seria preparada para o seu quarto, destino desejado por todas, pois representava a única forma de se tornar um dia uma sultana Validé na dependência de que o Sultão lhe “fizesse justiça” e, ainda que resultasse num filho homem e futuro monarca. Em contrapartida as odaliscas que passassem algumas noites com o Sultão por este privilégio estavam condenadas à reclusão perpétua, já aquelas que depois de 9 anos permaneciam ignoradas por ele podiam sair do Harém e iniciar vida nova casando-se. Segundo o filósofo árabe Averrois: “nestes estados as mulheres não são consideradas capazes de nenhuma virtude humana” por isso, concluímos, deveriam ser mantidas prisioneiras à casa e aos trajes especiais.
(*) Psicóloga e psicanalista