As reações de surpresa quando revelamos nosso parentesco se assentam no fato de abolirmos usualmente o sobrenome da linha materna, o que confirma a fala dos filósofos ao dizerem que o feminino se define biologicamente pelo ocultamento e socialmente pelo silêncio apesar do dito popular: “mulher fala demais, mulher fala pelos cotovelos”... É que a fala da mulher é por natureza intimista e é desse lugar feminino que desejo situar minha escrita, contrariando o social ao revelar fatos da família Andrade a que pertencemos.
Na juventude, Gilberto viveu as angústias próprias do seu tempo quando tentava compreender o mundo em que vivia, suas instituições e valores bem como limites e preconceitos. Desta época ficaram as longas conversas com minha mãe, na varanda de casa, nos debates profundos e profícuos sobre religião, fé, vida e morte. Percebe-se então que ele buscava uma compreensão racional através das interrogações essenciais que se encontram nas raízes da vida humana. Só assim acharia um sentido para a sua vida e o consequente desejo de viver. Anteriormente a matemática era seu instrumento preferido para assegurar-se da viabilidade de realização dos seus sonhos enquanto previsões possíveis de futuro e de sucesso econômico. Foram então intermináveis contas...
Introversivo e silencioso, mais pensador do que falante, encontrou bem cedo sua companheira de vida: Maria – parceira e mãe dos filhos aos quais se manteve sempre protetoramente por perto se espelhando em nosso avô Virgilio Batista de Andrade. Na família foi o primeiro a ter uma Lambreta – ajudado financeiramente com um empréstimo feito pelo nosso “Pai Filinho” (como gostava de ser chamado) o que nos provocava suas primas a vontade sempre atendida de pegar carona, passeando pela cidade.
Depois se iniciou na vida empresarial. Tendo meu pai – Irajara Nogueira Borba – como sócio fundou sua primeira empresa a Comercial Santo Antonio Ltda. Nela demonstrou sua verdadeira vocação mostrando socialmente a trajetória futura de empreendimentos comerciais e industriais, sociedades e negócios. Dentre eles vale a pena lembrar a fundação deste Jornal da Manhã juntamente com o Dr. Edson Prata e outros...
Há tempos estranhei o presente da poetisa Eva Reis, dado a uma jovem da família: um poema de sua autoria lido durante a festa. No entanto, os anos se passaram e dos inumeráveis presentes maravilhosos que a aniversariante ganhou o único de que me lembro até hoje foi esse que assim se iniciava: Lélia Inês, flor deste mês...