Mais dois assassinatos em nome do amor! Mais duas vítimas das ditas "crises amorosas"! Mais duas trágicas violências imperdoáveis e incríveis contra a mulher!
Mais duas chagas incicatrizáveis contra a cultura social que permite a execução sumária do fraco pelo forte! Mais uma prova da inalterabilidade dos atos masculinos frente ao feminino, mesmo após a Lei Maria da Penha!
Pelas cenas repetitivas desta agressividade masculina sobre o feminino parece que só o homem ama; e, assim, só a ele seria permitido matar em nome do amor! No entanto, o ideal romântico é basicamente feminino; as queixas e queixumes da paixão são mais frequentes entre as mulheres; os choros mais angustiados de pura perda só elas mostram; como também, há muito, as traições e os abandonos fazem parte da vida amorosa das mulheres, que sofrem sem se permitirem retaliar, sem vingar a dor da humilhação e dos cortes afetivos!
Nem é preciso frisar a incoerência do dito "matar por amor"; não é por amor que se mata, mas sim por puro ódio, mesmo que estes sejam inseparáveis. Na experiência amorosa encontram-se os bons e belos sentimentos – amor e aceitação incondicional – mas, também os feios e perigosos – ódio, ciúme e vingança, e todos presentes nos vínculos afetivos que unem e separam pessoas.
Apesar da base comum de afeto e ação destrutiva, as cenas que envolveram os assassinatos são inteiramente diferentes. A Virlanea viveu seu calvário e sofreu suas dores na solidão desesperadora da impotência frente à força avassaladora do macho indignado; já Eloá passou as 100 horas do seu martírio em cadeia nacional, com a presença maciça do povo, que identificado com seu sofrimento, compartilhava suas aflições, seus medos, suas esperanças e desesperanças. Seus carrascos ou algozes mostraram assim suas características individuais de personalidade: um buscou a restrição do tête-à-tête com o assassino; o outro, a exibição afrontosa e brutal do seu poder de destruição. O primeiro tentou o ocultamento mais revelador ainda de seus sentimentos e planos; o segundo encenou, tornou-se ator visível das suas artimanhas odiosas. Nas duas cenas a revelação foi a mesma: a fragilidade pessoal diante da recusa de amor, da rejeição, da separação, é como se dissessem: você não pode me abandonar porque minha dor de perdê-la é irreparável.