Com este título, Raquel Landim nos brinda com um excelente texto sobre o desenrolar pormenorizado da crise política e econômica decorrente das ações da Lava Jato e, em especial, os percalços dos irmãos Batista – Wesley e Joesley –, que culminaram na delação premiada e a gravação não autorizada que Joesley fez com o então presidente da República, Michael Temer, e o senador Aécio Neves. Joesley também conseguiu imagens em vídeo dos homens de confiança daqueles – Rodrigo da Rocha Loures e Frederico Pacheco, respectivamente, quando foram pegar as malas de dinheiro diretamente das mãos de Ricardo Saud. Numa tentativa de impedir qualquer ação negativa de registro da cena, Laures pega a mala de dinheiro e sai correndo para um táxi que o aguarda. Mesmo assim, foi possível a gravação que compromete definitivamente o presidente Michael Temer e o senador Aécio Neves – dois líderes da República em prática escandalosa de corrupção.
Para se ter uma ideia dos valores estratosféricos deste “toma lá, dá cá” da República brasileira, basta falar sobre a época das tentativas de aprovação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados: o emissário do governo – deputado João Bacelar – procurou insistentemente o empresário Joesley Batista e apresentou-lhe uma lista de 30 nomes, esclarecendo que eles pediam cinco milhões cada um para votar contra o impeachment. Assim, ficamos sabendo que, quanto maior o problema em votação nas casas parlamentares, mais caro o valor do voto. Caso o Joesley tivesse aceitado o pedido, não teria havido o processo! Sabemos também que o dinheiro do outro é gasto com mais facilidade do que o próprio – decorrente do esforço pessoal e profissional.
O doador de propinas também era chamado para mediar pedidos de partidos para apoio ao governo. Assim, o “centrão” precisava para continuar no governo e abandonar o PMDB de uma lista de ministérios e chefias de estatais, afirmando que aquilo era o que o Temer havia prometido a eles se o impeachment fosse aprovado e ele assumisse a Presidência. Se quisesse que o “centrão” permanecesse leal, Dilma teria que ir além nas benesses. E, no final, o processo foi aberto e votado, porque o deputado Eduardo Cunha estava magoado com a Dilma e o PT pela votação contra ele na Comissão de Ética e a favor da abertura de investigação, mesmo depois da promessa do Jaques Wagner, feita anteriormente.
O livro é o resultado palpável do esforço da jornalista e autora que escutou horas e horas de gravações e leu centenas de documentos, entrevistou outras centenas de pessoas entre funcionários e membros da família Batista e ainda autoridades – Recomendo a leitura.
Ilcea Borba Marquez
Psicóloga e psicanalista
E-mail: ilcea@gmail.com