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2 de novembro e os finados

José Elias de Rezende Júnior
Publicado em 04/11/2022 às 21:37Atualizado em 15/12/2022 às 23:43
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A data comemorada nacionalmente como Dia de Finados tem o objetivo de relembrar a memória daqueles que não estão mais neste mundo e, geralmente, implica numa grande movimentação nos cemitérios de todo o país, explicitando a crença popular de que a aproximação dos despojos materiais dos entes queridos seria a melhor maneira de homenageá-los.

Neste peculiar ano de 2022, a data foi utilizada para manifestações por todo o país, cujo tema central é o inconformismo com o resultado do segundo turno das eleições para a Presidência da República encerradas no dia 30/10/2022, bem como o clamor por uma “intervenção federal” (sic) com fundamento no artigo 142 da Constituição Federal, o qual atribui às Forças Armadas, entre outros, a “garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

Na busca por devolver às comemorações do Dia de Finados o seu protagonismo, propõe-se, inicialmente, a sua análise sob a ótica da Moral Cristã, uma vez que a data oferece o ensejo para reflexões importantes sobre o verdadeiro sentido da existência humana.

No Evangelho de São Lucas (cap. IX, v. 59 e 60), há interessante passagem, na qual Jesus propõe a um indivíduo que o seguisse, o qual, por sua vez, pediu permissão para antes enterrar o seu pai, após o que, recebeu a seguinte resposta do Mestre: “Deixai aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos, mas por vós ide anunciar o reino de Deus”.

O sentido moral da referida passagem, segundo Allan Kardec (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXIII, item 8), é de que “o respeito que se tem aos mortos não se prende à matéria, mas, pela lembrança, ao Espírito ausente”, acrescentando que o Cristo pretendeu ensinar aos homens não se inquietarem com o corpo, uma vez que a verdadeira vida não está na Terra.

Numa escala de valores morais, construída com base no referido ensinamento, tem-se que não há interdição à preocupação com os despojos materiais dos entes queridos, desde que tal preocupação não suplante a verdadeira homenagem que aqueles merecem, por meio de uma lembrança fraterna e amorosa dos momentos vividos juntos, aliada à certeza da continuidade da vida, que conforta a dor da separação temporária.

Neste contexto e acreditando-se que o desvirtuamento da data comemorativa não se deu ao acaso, uma analogia poderá cooperar para a devida compreensão dos fatos. A justificativa daqueles que saíram de seus lares para contestar o resultado das eleições, é uma legítima preocupação com o futuro do país, cujo êxito dependeria do sacrifício temporário dos valores democráticos, em prol de uma causa maior.

E, tal qual o homem que se preocupou em enterrar o pai antes de seguir Jesus, os manifestantes, sob os despojos de seu líder sucumbente no processo eleitoral, a clamarem para que os poderes mundanos salvem a pátria dos seus supostos inimigos, acabaram por encenar o drama daqueles que se deixam seduzir pelos ídolos e interesses da Terra, atestando a sua própria morte espiritual.

Uberaba, 02/11/2022.

JOSÉ ELIAS DE REZENDE JÚNIOR

Advogado e professor universitário

jose.elias@rezenderezendeadvogados.adv.br

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