É preciso iniciar este artigo pedindo desculpas antecipadas ao leitor que, entusiasmado pelo seu título, espera colher aqui elogios ao discurso realizado pelo recém-eleito presidente dos Estados Unidos da América, o qual, no ato de agradecimento pela vitória, proferiu a frase “That´s why I love you, Elon”, fazendo referência ao empresário cujo sobrenome é Musk e dispensa maiores apresentações. O afago foi precedido de uma série de elogios e de uma tragicômica metáfora na qual o pouso de um foguete pertencente a uma das empresas do agraciado é comparado ao acolhimento de um bebê de colo.
Feitos os esclarecimentos iniciais e contando doravante com a paciência do leitor decepcionado, tem-se que um dos princípios basilares de uma sociedade livre é certamente o respeito por todas as crenças - o que, sem dúvida, envolve a ideologia política -, o qual, porém, deve estar em harmonia com o sagrado direito de discordar, de criticar, de debater ideias e de divergir do pensamento alheio, sempre respeitosamente. Estes dois postulados são essenciais para que exista a verdadeira liberdade de expressão e um ambiente propício ao desenvolvimento da autonomia do indivíduo.
E, em homenagem à liberdade de expressão nos moldes acima propostos, é notório que a eleição de Trump foi celebrada pela direita brasileira, a qual, de maneira geral, se posiciona idelogicamente como liberal na política e na economia. Este contexto revela interessante contradição, em razão de que as principais pautas econômicas do novo mandatário da maior democracia do mundo envolvem protecionismo e intervenção do Estado na economia, o que, para dizer o mínimo, não é condizente com os valores liberais. Ademais, caso cumpridas as promessas de campanha do vencedor, há possibilidade de taxação de produtos brasileiros que venham a entrar na terra de Tio Sam, inclusive as commodities, o que pode representar severa queda das exportações brasileiras, com consequências econômicas danosas por estas plagas.
Ao leitor de direita que permanece na leitura até este momento, ainda que contrariado, talvez movido por uma certa esperança de que algo que soe bem aos seus ouvidos ainda possa sair desta mesma pena e como forma de lhe demonstrar o merecido apreço, segue a tentativa final: a incompatibilidade entre aqueles que pensam de maneira radicalmente oposta é apenas aparente, haja vista que o ser humano, para ser efetivamente justo, deve eliminar de si mesmo qualquer interesse pessoal, o que geralmente não ocorre quando se olha para as convicções do próximo. Tão ilusório quanto acreditar na revolução proletária como forma de se alcançar a pacificação social, é a crença de que empresários da estirpe de Elon Musk norteiam suas ações com vistas à liberdade do povo oprimido. O que geralmente posiciona indivíduos de um lado ou de outro de maneira exageradamente apaixonada, costumam ser interesses inconfessáveis que os tornam escravos das próprias convicções.
José Elias de Rezende Júnior
Advogado e professor universitário
zeliasjunior@gmail.com