ARTICULISTAS

Eficiência na ocupação da terra

Para o público em geral, habituado ao convívio com a pecuária, especialmente numa região como a de Uberaba

José Humberto Guimarães
Publicado em 07/06/2019 às 21:43Atualizado em 17/12/2022 às 21:26
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Para o público em geral, habituado ao convívio com a pecuária, especialmente numa região como a de Uberaba, a constatação de que a bovinocultura está tendo seu espaço territorial diminuído pode parecer inacreditável e até preocupante, mas a redução vem ocorrendo há tempos e acontece positivamente. A modificação ocupacional revela a decisão inteligente com a qual profissionais pecuaristas vêm efetuando diversificações estruturais em suas atividades, tradicionalmente só dedicadas à bovinocultura. 

O extraordinário crescimento da necessidade de comida em diversos países, notadamente na China, vem impulsionando a busca por alimentos no Brasil. Consequentemente, está havendo expansão da cultura de grãos no país e a atividade agrícola ganhou status empresarial e horizontes comerciais até há algum tempo inimagináveis. Logicamente, esses mercados promissores despertaram a atração também de pecuaristas, proprietários de terras aptas à produção de grãos e cana-de-açúcar, os quais passaram a se interessar pelo cultivo de lavouras em terras que até então eram utilizadas somente com a bovinocultura.

Áreas revestidas, em sua maior parte, com pastagens em degradação, vem sendo, há algum tempo, substituídas por lavouras. Isto está ocorrendo depois que pecuaristas passaram a fazer contas dos rendimentos vantajosos proporcionados pela agricultura, comparando-os com os obtidos pela pecuária. Para realizar seus intentos, esses pecuaristas estão encontrando no arrendamento agrícola a forma de inserção de glebas agricultáveis ao processo produtivo de soja, milho, sorgo e cana-de-açúcar, entre outras.

A introdução de lavouras comerciais via arrendamento, especialmente da cultura da soja, em fazendas de pecuária bovina vem propiciando aos pecuaristas que as adotam rendimentos mais elevados do que os produzidos pela bovinocultura convencional, seja ela de cria, recria ou engorda. Essa alternativa está proporcionando a um só tempo a melhor remuneração pelo uso da terra, a revitalização das áreas que estavam deterioradas, a obtenção de renda diversificada da pecuária e a viabilização de pastagens nutritivas em revezamento com as lavouras.

Essa tendência proveitosa, na realidade, não é nova por aqui e vem sendo adotada gradativamente já há alguns anos, observando-se sua aplicação desde a década de 1980, quando se iniciou o plantio de lavouras de soja na região e se instalou oficialmente a Bolsa de Arrendamento de Terras. Naquela época, o município de Uberaba contava com extensos 300 mil hectares para alojar um rebanho bovino de 180 mil animais, uma lotação de apenas 0,6 UA (unidade animal) por hectare. Á área cultivada com lavouras não chegava a 20 mil hectares, incluindo-se aí 8 mil hectares de lavouras de soja.  De lá para cá, as lavouras saltaram para 200 mil hectares e a bovinocultura teve seu território reduzido para apenas 120 mil hectares, mantendo, no entanto, um plantel quantitativamente igual ao de outrora, mas qualitativamente muito mais produtivo; a lotação subiu de 0,6 para 1,5 UA (unidade animal) por hectare. Desta forma, materializam-se as vantagens da integração lavoura/pecuária, evidenciadas, entre outras, na diversificação de culturas e na eficiência da ocupação da terra.

(*) Consultor para parcerias e arrendamentos rurais, ex-secretário de Agricultura de Uberaba

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