Na maior parte dos municípios brasileiros, a ideia que se tem do progresso está relacionada com o comércio e indústria somente. Desconhecendo a maior riqueza de que dispõem – a terra –, as lideranças municipais tendem a investir política e financeiramente em eventuais programas industriais e na criação de distritos que atraíam a instalação de fábricas, acreditando ser este o único instrumento capaz de gerar progresso e bem-estar social.
Por não conhecerem o perfil agroeconômico do município e nem os dados básicos, como a extensão territorial, a ocupação econômica da terra ou a produção agrícola local, concentram seus esforços em incentivar a instalação de indústrias, sem considerar o requisito principal para seu funcionamento, que é a disponibilidade de matéria-prima. É frequente a exportação de grandes volumes de produtos in natura transportados para localidades distantes, onde são industrializados e que retornam para serem consumidos em suas regiões de origem. E há também casos de indústrias interioranas que deveriam abastecer-se de matéria-prima local e, no entanto, importam esses produtos de municípios longínquos.
Ignorando a estratégica função da produção rural para a economia como um todo e, também, para criar facilidades para a indústria, os municípios deixam de lado o setor primário.
Fábricas de alguma coisa ou de qualquer coisa são as ambições frequentemente perseguidas de cada localidade interiorana brasileira, onde quase tudo se conhece sobre as atividades urbanas. E a promoção do desenvolvimento? Como está sendo feita e quem são seus executores? Como e onde implementá-lo? A economia destas localidades está fundada sobre a produção agropecuária e, no entanto, desconhecem-se seus empreendedores, suas atividades e as possibilidades de ampliá-las.
O descaso das lideranças em relação à atividade agropecuária produz situações de desorganização no abastecimento de alimentos que refletem negativamente nos resultados do almejado desenvolvimento e prejudicam produtores e consumidores locais. Como exemplo típico, pode-se citar o caso da produção de milho, leite e hortaliças, culturas presentes, com expressividade variável na maioria dos municípios brasileiros, cujos produtos se tornam inacessíveis aos consumidores. Sobra leite em determinada época do ano, falta milho para a sustentação de animais e importa-se verdura para suprir o consumo das cidades com potencial para produzi-los. É de pasmar que muitas comunidades do nosso interior, possuidoras de vastas extensões de terras, com suas populações carentes de emprego e malnutridas, tenham se tornado importadoras habituais de produtos que poderiam produzir.
Reverter este processo é seguramente possível a partir do exame acurado da utilização da terra do local, buscando encontrar os meios de impulsionar atividades agrícolas tecnificadas.
Fazê-lo é tarefa patriótica, que dissemina conhecimento e ânimo para demais comunidades interioranas que estão em busca do imperioso desenvolvimento socioeconômico.
José Humberto Guimarães
Consultor para Parcerias e Arrendamentos Rurais; ex-secretário municipal de Agricultura de Uberaba
Josehumbertogui@gmail.com