A ocupação da terra do município de Uberaba, desde tempos remotos, foi feita predominantemente pela pecuária bovina. Em cerca de 500 mil hectares, a maior parte de campos e cerrados, de pouca ou nenhuma fertilidade natural, alojava-se de forma precária baixa lotação animal. As lavouras, poucas, resumiam-se a arrozais, milharais e alguns feijoais cultivados nos campos e nas margens dos riachos. Em sua maioria, em pequenas quantidades, poucas com fins comerciais. Supriam a população rural e o excedente da produção comercializado gerava renda adicional aos ganhos com a venda de leite, seus derivados e bezerros. Cultivadas por apenas dois anos, as lavouras brancas tinham como finalidade maior o revolvimento da terra para a formação de pastos. Contando apenas com a ilusória fertilidade natural, estes pastos tinham pouca durabilidade. Usavam-se tratores, mas a maioria dos preparos era executada com tração animal. A pecuária bovina predominava extensivamente. Muita terra, mas pouco gado.
Contudo, desde a década de 1950, tentativas houveram para introduzir lavouras temporárias e permanentes nesse ambiente. A cana-de-açúcar à margem do rio Grande foi plantada para suprir uma usina açucareira instalada no antigo distrito de Delta. O algodão e o amendoim para a produção de óleo comestível foram muito divulgados e contaram à época com uma moderna esmagadora, aqui instalada, a indústria Produtos Ceres, que esperava a adesão de fazendeiros da região para o plantio destas oleaginosas. Pecuaristas cautelosos, vocacionados para a atividade pastoril, não quiseram se arriscar. A matéria-prima tinha que vir de outros Estados. As culturas não ganharam adeptos e a indústria encerrou suas atividades. Outras duas tentativas também duraram pouco; uma delas, o reflorestamento com eucalipto para produção de madeira, chegou a ocupar 45 mil hectares no município e, vencidos os contratos de parcerias, cederam áreas para a sojicultura. A outra, o plantio de café, teve seu início em meados de 1970, contando com fartos subsídios financeiros do governo federal, mas não se sustentou e foi gradativamente erradicada. O destino parecia estar reservando para Uberaba a monocultura bovina.
Mas uma iniciativa pioneira atraiu para o município agricultores profissionais, que buscavam espaços territoriais para o cultivo da soja: A Bolsa de Arrendamento de Terras. Inovadores, estes agricultores migrantes estruturaram a terra e fizeram-na física e quimicamente capacitada a produzir soja, hoje o “ouro vegetal” do Brasil. Em 1984, no limiar da Bolsa de Arrendamento de Terras, eram apenas 8.700 hectares deste grão. Com três anos agrícolas, foram pactuados 135 contratos, que abriram 25 mil novos hectares. Como cultura desbravadora e vitalizadora da terra, a soja proporcionou espaço apropriado para o milho, com o qual passou a fazer necessária rotação, procedimento benéfico para que ambas elevem suas produtividades. Com o sorgo granífero, forma dobradinha perfeita para se fazer as duas safras em um único ano agrícola. A reforma anual de 20 por cento da área de cana-de-açúcar é feita com a lavoura de soja. E sobre as terras vitalizadas pela soja ainda temos o trigo, o algodão a batata-inglesa, a cenoura, entre outras. Na atualidade, a soja ocupa cerca de 90 mil hectares. O horizonte induz ao seu crescimento sobre áreas de pasto degradado, integrando sabiamente agricultura e pecuária. O município de Uberaba colhe, na atualidade, um total de 220 mil hectares de todas suas lavouras.
José Humberto Guimarães
Consultor para Parcerias e Arrendamentos Rurais
Ex-secretário municipal de Agricultura de Uberaba
Josehumbertogui@gmail.com