No Brasil, desde os primórdios e por muito tempo, conceituou-se que ser proprietário de terra era sinônimo de poder e possuí-la seria sinal social de importância pessoal. Deter o título de propriedade de alguma área territorial empoderava tão intensamente o seu portador, que pouco importava a eficiência da sua ocupação funcional. A terra era mantida como reserva de capital. Este patrimônio imobilizado – inativo, valorizava comercialmente mais do que se estivesse produzindo.
Por outro lado, lavouristas usuários de terras de terceiros eram predominantemente contratados como parceiros, incluindo-se aí os meeiros, todos eles participando das roças com o que tinham para contribuir: a força do trabalho. Portadores de parcos meios materiais e financeiros para execução das lavouras ocupavam glebas de fertilidade natural que lhes permitiam o plantio de grãos, valendo-se apenas da extração dos nutrientes nelas existentes. Por suas naturais debilidades, tinham forte submissão e dependência do proprietário da terra.
Retrógadas, estas condutas perduraram até há pouco tempo, ou melhor, até quando a agricultura foi deixando de ser extrativista e passou a ser tecnificada, exigindo dos seus executores profissionalismo na sua gestão. Desenvolver empreendimentos produtivos sobre a terra exige, na atualidade, denodo e capacidade empreendedora para conduzi-la ao cumprimento das suas excelsas funções.
Desta forma, foi a adoção de tecnologias para a obtenção de bons rendimentos nas atividades agrícolas que passaram a produzir resultados financeiros relevantes. Esta importância passou a exigir dos agricultores aprimoramento na gestão dos negócios. Dentre outros, a gestão patrimonial passou a ser entendida como de suma importância para obtenção de renda compatível com os ativos existentes e potencialmente produtíveis. A partir daí é que proprietários de terras passaram a enxergar os prejuízos financeiros acumulados com áreas de pastagens degradadas, e por outro lado, agricultores profissionais passaram a valorizar muito melhor seus ativos representados por máquinas e equipamentos, sobretudo os seus saberes e conhecimentos da atividade agrícola. Portanto, a propriedade da terra não é mais por si só o instrumento remunerador de quem a possui e nem é motivo de conceituação de incapacidade operacional ou financeira para proprietários que a cedem em arrendamento para profissionais agricultores. É sim uma opção de negócio.
Transformar áreas em degradação em glebas agrícolas refaz a terra depauperada e produz renda para os protagonistas, proprietário arrendador e agricultor arrendatário, que adotaram a prática gerencial de integrar lavoura/pecuária através de contratos de arrendamento.
José Humberto Guimarães
Consultor para Parcerias e Arrendamentos Rurais; ex-secretário municipal de Agricultura de Uberaba
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