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Leucena, praga ou bênção?

José Humberto Guimarães
Publicado em 10/06/2022 às 21:38Atualizado em 18/12/2022 às 20:19
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A danosa crise do petróleo, elevando a preços insuportáveis seus produtos, já causa reação da população quanto ao consumo do gás de cozinha: a sua substituição por material energético lenhoso. Isso já pode ser constatado com acontecimentos que revelam a mudança. Trafegando por uma das principais vias de acesso para a cidade, deparo-me com um pequeno e antigo caminhão ostentando nas portas da cabine sua finalidade: “vende-se lenha”. Na carroceria do veículo, uma bem-organizada pilha de madeira, originária de floresta artificial de eucalipto. A carga provavelmente estaria vindo de uma localidade rural distante. Despertou-me a atenção o fato de como as pessoas buscam integração com a natureza quando se veem em privações. O eucalipto já foi uma espécie exótica amplamente indesejada por aqui. Criticavam-no sem que o conhecessem. Agora, existente em pequenas quantidades no município – sete mil hectares apenas –, ele pode minimizar as dificuldades de quem busca uma labareda barata para o cozimento de alimentos que o sustente. Mas o eucalipto não está só nesse socorro aos mais necessitados. Ao longo do trecho da avenida na qual trafegávamos, ladeando o córrego das Lages, visualizo uma floresta urbana que vem se formando intacta até a foz deste riacho no Rio Uberaba e, consequentemente, às margens do rio abaixo. A espécie arbórea que está povoando este vale e outros espaços citadinos é uma planta rejeitada por muitos e festejada por outros e que pode contribuir para reduzir o sofrimento de quem está na penúria: a leucena!

A leucena é uma planta originária da América Central e que chegou ao Brasil há cerca de 40 anos. Entre suas virtudes está o fato de ser um material lenhoso de fácil combustão; é também fácil de nascer, de crescer e de semear; ganha estatura de três metros com apenas um ano e de quinze metros aos três anos; é uma planta rica em proteína e suas folhas e vagens são excelentes alimentos para animais e aves, e ainda é rústica, resistente, espalha-se rapidamente e por isso tem sido considerada como incontrolável. Por sua característica invasora, tem sido a reflorestadora natural de áreas de terras áridas, aqui e acolá. É exótica e seus críticos a consideram uma praga.

Está aí, portanto, um dilema: o gás de cozinha está inacessível para uma grande parcela da população que é desprovida de recursos financeiros para adquiri-lo. Esta população, que mal dá conta de se manter alimentada e que luta para comprar uma pequena cesta básica, agora corre atrás de um substituto que possa cozer seu alimento. A alternativa é, com certeza, a lenha. E onde e como consegui-la? Para quem tem algum poder aquisitivo, pode ser adquirida de comerciantes do produto, que por certo estão buscando fornecedores. Para quem vive com dificuldades financeiras, o jeito vai ser obtê-la nas áreas de cerrado que circundam a cidade. Para pessoas de baixo poder aquisitivo, mal remuneradas e desempregadas, o suprimento poderá sair da leucena que viceja aqui na cidade mesmo. Coletando-a e raleando capões de matos resultantes benéficos das suas infestações, a leucena ressurgirá do corte simulando uma Fênix, pássaro da Mitologia grega que quando morria ressurgia das cinzas.

José Humberto Guimarães

Consultor para Parcerias e Arrendamentos Rurais

Ex-secretário municipal de Agricultura de Uberaba

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