Cerca de 10 milhões de cidadãos brasileiros, com idades acima de 14 anos, a maioria de baixa ou nenhuma escolaridade
Cerca de 10 milhões de cidadãos brasileiros, com idades acima de 14 anos, a maioria de baixa ou nenhuma escolaridade, estão dedicando seu trabalho laboral à produção de alimentos para o próprio consumo, obtendo-os através do cultivo de lavouras como hortas e criação de pequenos animais. O trabalho é executado em boa parte por pessoas de idade mais avançada e é utilizado fundamentalmente para subsistência.
Este contingente populacional, que por sobrevivência ou economia, sustentabilidade ou saúde, utiliza espaços pequenos ou minúsculos para a obtenção de alimentos que atendem parte de suas necessidades nutricionais, está crescendo ano a an em 2016 eram 6,3%, em 2017 somavam 7,3% e na atualidade já chegam a 7,6% da população, registrando-se, portanto, no decorrer de três anos um aumento de 2,5 milhões de pessoas neste âmbito de trabalho.
Os números aqui sintetizados fazem parte dos dados da “Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua”, realizada pelo IBGE em 2018, cujo levantamento registra a existência de quatro ramos de atividades praticadas com este objetivo. Entre elas, evidencia-se como a mais expressiva a atividade relacionada à alimentação, constituída do cultivo de pequenas lavouras, da criação de animais, e da caça e pesca, tudo efetuado por 77% de pessoas atuantes neste universo ocupacional de 13 milhões.
Não causa surpresa o numeroso elenco de pessoas dedicadas às atividades supridoras de alimentos básicos para o sustento individual. Também não é espantoso que grande quantidade de pessoas venha se inserindo neste ramo produtivo. Na inexistência de perspectivas para conseguir uma remuneração regular que possibilite adquirir pelo menos uma cesta básica, utilizar a força dos braços na obtenção do próprio alimento é por certo um meio decente que se exerce para viver com alguma dignidade.
Na falta de ações governamentais que viabilizem a geração de postos de trabalho, pode-se esperar, nestes próximos anos, muito mais inclusões de pessoas desempregadas ao grande grupo dos que produzem materiais para o próprio consumo. Não deixa de ser uma alternativa valiosa e honrada. Para tal, o país dispõe no campo e nas cidades, de grande disponibilidade de áreas agricultáveis, muitas delas subutilizadas e apropriadas para a agricultura e a pecuária de pequeno porte. Estes ociosos espaços territoriais poderão oportunizar aos carentes de emprego os meios elementares, simples e modestos, para que pessoas humildes não continuem tão à margem da sociedade.
Uberaba, embora vivencie desenvolvimento razoável, não foge à regra desta dolorosa e aflitiva situação que é o desemprego, eloquentemente demonstrado diariamente nas filas que se formam às portas do Sine. Sabe-se que muitos outros destituídos de trabalho ali não mais comparecem desiludidos com a inexistência de vagas. Já a existência de espaços para plantios diversos existem, e muitos, especialmente dentro do perímetro urbano, em terrenos aptos e alvos do serviço público de vigilância de zoonoses, que busca higienizá-los para livrar-nos do mosquito da dengue. Para unir o útil ao agradável, limpando a cidade e gerando comida, a municipalidade deve atuar junto aos proprietários destes lotes mostrando-lhes as vantagens de plantá-los e cultivá-los através de cessão por contratos de comodato para pessoas que desejem ocupá-los produzindo para consumo familiar e até mesmo para venda de excedentes. Assim será possível, de uma só vez, minimizar problemas graves que nos tocam, utilizando a mais nobre e eficiente das ferramentas que é a produção de alimentos.
(*) Consultor para parcerias e arrendamentos rurais; ex-secretário de Agricultura de Uberaba