Existe um desejo no íntimo de muitas pessoas em amplas camadas sociais, mas especialmente num elenco de empreendedores com bom tino comercial, batalhadores no trabalho, que, ao expressarem suas expectativas quanto ao futuro, afirmam que, para sua realização pessoal, ambicionam, mais do que uma aposentadoria bem remunerada, uma casa no campo. Os meios de comunicação modernos, captando e mostrando ao vivo como é a vida na zona rural, contribuem ainda mais para aguçar essa perseguida ambição.
Os anseios sonhados direcionados para a vida campesina, objeto de desejo de novos ricos, estes agora mais numerosos e mais endinheirados do que os de outrora, que buscavam apenas uma casa no campo, passaram a ser também o de ter um sítio, uma chácara ou até mesmo uma fazenda. Estes desejos, realmente prazerosos e vantajosos, colocam muita gente boa no campo, inflaciona o mercado fundiário e introduz pessoas bem-intencionadas na pecuária bovina e em outras atividades pastoris, como a equinocultura e a ovinocultura. Pode-se incluir também aqui o povoamento de numerosas colônias de ranchos às margens das represas ao longo dos rios Grande e Paranaíba, no Triângulo Mineiro, sabendo-se que essas ocupações mantidas para o lazer movimentam um setor importante da nossa economia, que é o turismo.
Agora, então, esses anseios estão reacesos intensivamente com a exibição da novela “Pantanal”, disponibilizando paisagens cinematográficas daquela região inigualável do planeta e que mobiliza um grande contingente de pessoas para ali e em outros lugares. É natural que isso venha acontecendo, principalmente tendo-se em conta a maneira romanceada com que Benedito Rui Barbosa, o autor da novela em sua versão original, expõe o cotidiano naquele aprazível local em que se passa o folhetim.
Em que pese especialmente que na versão atual da novela estejam sendo tratadas questões técnicas importantes para a agropecuária, como a integração lavoura-pecuária e, também, assuntos que inquietam a sociedade, como racismo, homofobia e violência contra a mulher, a maior parte das cenas trata de uma vida rural glamourosa, ocorrendo intramuros e no entorno de uma mansão de fazenda luxuosa. Neste ambiente, os personagens masculinos, aparentemente, trabalham pouco e passam boa parte dos dias dentro da cozinha e sala de jantar à mesa, saboreando apetitosas iguarias e ingerindo aromáticas cachaças. Enquanto isso, as mulheres, cada uma delas sempre demonstrando habilidades no trato da lida doméstica, estão rotineiramente na beira do fogão, confeccionando os menus sertanejos. A vida no campo na verdade não é bem assim.
Na realidade, esse Pantanal cinematográfico abrange uma grande região onde predomina a pecuária bovina eficiente e que busca na integração com lavouras as melhores condições de manejo para a preservação do ambiente local.
Além da convivência constante com as paisagens campesinas, é necessário que os cidadãos que buscam adquirir os seus quinhões de terras ou ranchos rústicos e acolhedores assimilem ações no trabalho da vida laboriosa dos pantaneiros e dos empreendedores, que fazem da lida com a terra suas realizações pessoais.
José Humberto Guimarães
Consultor para Parcerias e Arrendamentos Rurais
Ex-secretário municipal de Agricultura de Uberaba
josehumbertogui@gmail.com