Nada como um dia após o outro, proclama-se quando quer se expressar, através de um velho ditado
“Nada como um dia após o outro”, proclama-se quando quer se expressar, através de um velho ditado, sentimento de desforra às infâmias que atacam indevidamente pessoas ou coisas preciosas, tentando desacreditá-las, mas que no decorrer do tempo, os procedimentos que os envolvem acabam por reconhecer-lhes os valores que lhes são pertencentes. É sim este o caso do queijo mineiro.
Tradicionalmente produzido em algumas regiões de Minas Gerais há quase dois séculos, o queijo Minas – frescal, meia-cura ou curado -, tem propriedades alimentícias impregnadas de sabor, aroma, aparência e textura únicos que os fizeram conhecidos, apreciados e disputados no país. Tais características são obtidas através de um ritual de trabalho artesanal que se aproxima da ambiência de mosteiros franciscanos. A sua receita de confecção minuciosamente elaborada combina leite de vacas alimentadas a pasto integradas harmoniosamente ao ambiente e vem se mantendo genuína através dos anos pelas mãos operosas de famílias campesinas que a transferem de geração em geração, fazendo da marca do queijo o seu brasão de trabalho.
Mas o que caracteriza mesmo de forma marcante e faz deste queijo uma iguaria especial, diferenciada de outros queijos, é a adição de um fermento lácteo natural denominado “pingo”, uma porção líquida de soro, extraída como néctar, diariamente, da massa leitosa que gerou queijos no dia anterior. Adicionado à coalhada é este o aditivo que saboriza os queijos e que os fazem um deleite dos deuses.
No entanto, este apreciadíssimo produto, elaborado por centenas de artesãos teve, não faz muito tempo, seus dias inglórios, quando sob as exigências de padronização da iguaria aos regulamentos sanitários internacionais, ficou sob a mira de avaliações preconceituosas e indevidas quanto a sua qualidade e foi alvo de inverdades quanto aos seus aspectos sanitários.
Contudo, estabelecidos os procedimentos para sua adequação às exigências sanitárias e feito os ajustes que conferiram ao produto o certificado de origem e o seu correto acondicionamento, os queijos mineiros ganharam garantia de qualidade e roupagens identificadoras que lhes garantiram apresentarem-se em qualquer parte do mundo. E foi aí que investidos destas autenticações, que o queijo mineiro foi à forra. Alçou voo e foi disputar um campeonato mundial justamente no país considerado o maior e melhor produtor de queijos do mund a França.
E para lá foram os mineiros, humildes e modestos, cada um levando os seus produtos, confiantes e determinados a mostrar ao mundo o que é que se faz aqui, nos campos alterosos, transformando leite cru em finas delícias. Superando exigências e imposições burocráticas para o transporte destes bocados, custeando despesas por suas próprias contas, os mineiros chegaram a Tour, cidade do interior francês, para o “Mondial du fromage”, realizado recentemente. A disputa com participantes de 20 países teve a inscrição de 953 queijos. Entre tantos e categorizados inscritos, o Brasil foi destaque da premiação, obtendo 58 medalhas, das quais produtores mineiros abocanharam 50 medalhas, sendo três de super ouro.
Embora injuriosas, as ofensas sofridas tempos atrás, tentando desqualificar os produtos, mexeram com os brios desta gente laboriosa que atua profissionalmente na arte de fazer queijos e o resultado só poderia ser este êxito. Premiou devotados produtores queijeiros fazendo justiça aos seus tradicionais trabalhos que mantêm a essência do ambiente campestre e a busca permanente do aprimoramento da qualidade.
O evento que acaba de consagrar a produção de queijos mineira abriu as portas do mundo para os seus produtores. Para o universo de apreciadores, o resultado do campeonato, no entanto, só confirma a preferência que sempre dedicaram a este inigualável produto. Para todos, fica a categórica expressão, consagrada como restauradora da verdade, de que “nada como um dia após o outro”.
(*) Consultor para Parcerias e Arrendamentos Rurais; Ex-Secretário Municipal de Agricultura de Uberaba