É carnaval neste Brasil de meu Deus. Aqui, uma semana praticamente no chamado “ócio criativo” do escritor italiano Domenico De Masci.
Umas férias antecipadas, já que no corre-corre dos tempos atuais, é difícil tirar umas férias completas. Estes dez dias ajudam muito.
Neste formato meio preguiçoso, os fatos vão acontecendo, a vida se desenvolvendo e ficamos a pensar nas agruras do nosso tempo.
O pensamento começa com uma situação que acho engraçada; o carnaval em si deixa o brasileiro alienado?
Perdi a conta de quantas mensagens recebi, via mídias sociais, sobre o fechamento do país na sexta e a reabertura na quarta-feira de Cinzas. Mensagens de todo tipo, umas mais amenas, outras agressivas, umas caricatas, principalmente as que incluíram o ex-goleiro Bruno, cuja soltura da prisão serviu de mote para muito comentário, a maioria de gosto bem duvidoso. O carnaval como cultura popular reflete o país que somos.
As minhas divagações foram me levando no sentido de achar que este é o nosso jeito, independente de carnaval, do aniversário da cidade, da Copa do Mundo...; todos sabemos o que precisa ser feito, as mudanças e reformas necessárias ao bom andamento do país em qualquer seara e, por não agirmos para que sejam realizadas, nos frustramos e começamos a arrumar culpados por tudo que não concordamos. De fato, debitar aos quatro dias da folia os desmazelos da política, da economia, da alienação do povo nos outros 361 dias é transferir para os que curtem a farra de Momo situações que perduram desde o descobrimento do Brasil.
Nossas angústias, creio eu, são muito mais fruto da letargia de ação concreta do que realmente a paralisação neste período. É o mesmo que debitar para a semana entre o Natal e o ano novo todos os exageros que cometemos entre o ano novo e o Natal (culpar uma semana, poupando as outras 51); é continuar querendo reclamar dos efeitos e não enfrentar as causas. Acredito que o tempo do salvador ou dos salvadores da pátria, independente de quem sejam, deve ficar para trás e fazer surgir um projeto de Nação, um projeto coletivo, e não individual; um projeto de trabalho, e não de especulação de mercado, que de fato restabeleçam deveres e direitos, sem pirotecnia e falsas promessas.
A Economia depende de decisões políticas; as decisões políticas dependem de escolhas adequadas, e as escolhas adequadas dependem invariavelmente do binômio Educação e Cultura, sem qualquer elitismo.
Nesta semana, nosso meio empresarial sofre com a paralisação das atividades; outros lugares ganham com o turismo gerado pela folia de Momo, e, neste caso, não me refiro aos grandes centros, como Rio, São Paulo, Salvador, Recife /Olinda... Cito as pequenas cidades, que também lucram com o feriado prolongado, afinal muita gente viaja, buscando sossego, segurança, novas energias...
A lição desse processo passa muito mais por nossas ações do que omissões; o empresariado precisa de ambiente seguro para os negócios, regras claras, carga tributária adequada, legislação trabalhista moderna, reforma fiscal, agilidade em decisões, e este ambiente leva à manutenção e à geração de novos empregos.
Sintetizo sugerindo a todos que aproveitem a semana e avaliem como agir para, de fato, atuarmos nas causas, e não apenas nas consequências. Ainda assim e por isso mesmo, Feliz Carnaval! Parabéns, Uberaba, pelos seus 197 anos, e que o Colorado vença mais uma neste Centenário! Tudo com moderação.
Karim Abud Mauad