Começo este artigo rindo de uma postagem que circulou nas redes sociais estes dias, após o início do segundo semestre de 2020, lembrando de 2014, quando num fatídico primeiro tempo a Alemanha já ganhava de 5x0. Lá como cá, o Brasil perdia e muito. Aquela derrota futebolística, que parecia uma tragédia, nem se compara com o que vivemos atualmente. Tragédia de fato é isto. Quase 70.000 mortes. Sem levar em consideração 10.000 óbitos fora de hospitais, em quatro grandes centos. Posso parecer irônico, não sou e muito menos ando brincando com a seriedade desta situação mundial. Perdi parentes, amigos, conhecidos e vários perderam os seus. Dizem que a morte é dolorida sempre, mas infinitamente pior quando tem nome e rosto.
Esta contabilização de números mundo afora me incomoda. Entendo ser necessário acharmos um caminho para todos com foco nas pessoas. Nossa economia vem combalida tem muito tempo; nossos indicadores na educação, saúde, segurança e emprego estão péssimos e não são de agora. Acredito que deveríamos achar soluções fora da rota normal. O momento é único para entendermos as necessidades da população, o coronavírus, em sua versão Covid-19, escancarou nossas deficiências e mazelas. O que antes parecia não incomodar, hoje tem um significado diferente e estranho. Um exemplo, a necessidade de confinar nossos jovens do ensino médio em casa demonstrou que estamos muito atrasados no ensino remoto, se comparado com outros países e com o nosso ensino superior. O que não se avaliou ainda é a qualidade deste ensino. A necessidade das escolas particulares se adequarem ao chamado novo normal demonstrou o hiato em relação às públicas, mas não necessariamente demonstrou sua superioridade de conteúdo, modelos e orientação para o futuro. Se antes da pandemia este assunto já incomodava a muitos, hoje estas deficiências estão escancaradas. Tive a oportunidade de participar da sétima reunião virtual da Frente Parlamentar Mista da Educação, onde discutiu-se a Educação Superior – como enfrentar os desafios da Covid-19? Este o foco. Em resumo – preocupante, para ficar no mínimo.
Na segurança pública, se já tínhamos a sensação de insegurança, hoje instalou-se o pânico. Assaltos, arrombamentos, violência para todo lado. O crime organizado se instalando e definindo as regras em vários locais. Aqui e acolá. Onde iremos parar?
Na saúde, a despeito do espetacular trabalho das equipes envolvidas no combate ao vírus, restaram o descalabro de várias carências e o desconforto de não atendimento em outros pontos. Fico alarmado com a retomada, pois várias moléstias estão sendo sacrificadas, abandonadas, descartadas para aliviar a rede. Consultas de rotinas foram suspensas, várias pessoas estão esperando um melhor momento para se cuidar. Saúde hoje é Covid-19, com raríssimas exceções.
Neste emaranhado, a solidariedade do povo aparece, o trabalho das entidades civis e apoio dos cidadãos vêm minimizando o desespero de muitos, aliando-se aos programas governamentais de renda mínima, para quem perdeu renda. E como ficarão os empregos?
Fico com a sensação do muito feito, mas da imperiosa necessidade do muito fazer. Não tenho a fórmula, mas receio ser vital o implemento de várias ações, nesta mesma linha do auxílio emergencial, para evitar uma convulsão social. A ciência econômica nos permite escolher vários modelos, creio ser chegada a hora de escolhermos o lado da preservação da vida. O Brasil hoje pode se dar ao luxo de emitir moeda, ou contrair dívida, sem grandes receios inflacionários. Portanto, podemos avançar mais na ajuda humanitária, deixando os ajustes para a pós-pandemia. Podemos prover liquidez nas atividades comerciais, fazendo circular recursos e gerar renda para todos. Temos que garantir a continuidade de reformas, utilização de marcos, privatizações que eliminem desperdícios excessivos, otimizar a força do capital humano, neste momento de reordenamento da Economia pelo mundo. Se erramos no passado, e erramos, chegou o momento de fazermos uma grande concertação e nos unirmos no projeto BRASIL. O momento é este, devemos usar nossas vantagens competitivas a favor e não contra. O governo pode mais, o grande capital também. Sem ideologias medievais, o caminho pode ser pavimentado. Oxalá todos tenhamos juízo. Parece um artigo em falta, mas anda faltando mesmo é vontade de planejar, implementar, medir e arrumar. Planejamento!!! Se definirmos objetivos e pontos chaves no processo, temos condições de chegarmos melhor ao futuro. A pandemia nos encontrou num momento de dificuldades, podemos aproveitar a adversidade e nos fortalecermos. Aí reside meu acreditar... depende de nós.
Karim Abud Mauad