Na semana passada, esteve em Uberaba o ministro da Justiça, Torquato Jardim, e infelizmente o quadro é desolador; a sensação de insegurança no país é grande. Podemos falar que o mesmo se aplica ao Estado e, claro, na cidade, onde de fato o cidadão vive, é que o caos é percebido com maior intensidade e gravidade. O pânico é geral, inclusive, sem distinção de área urbana ou rural, no âmbito da cidade, o mesmo se aplica a todos os bairros. No evento, o assunto abordado, até por sua maior vivência, diz respeito ao Rio de Janeiro, sua terra de procedência, onde em mais de 500 pontos mapeados o Estado não chega. Cruel. Lembrando que a visão romântica de morros e favelas, infelizmente, só e-xiste em novelas globais e letras de samba!
O que chama a atenção, em Uberaba, é a existência de um bairro, na saída da cidade rumo à capital mineira, onde o uberabense parece se sentir na capital fluminense. Todo o cuidado ao trafegar por ali é pouco; escolhem-se horários, tentam-se trânsitos em comboios, evitam-se passeios ciclísticos ou caminhadas, deixando a terra dos dinossauros mais ilhada e a capital menos acessível ainda para nossa gente. Segurança Pública, independente de ser responsabilidade de A ou B, é fator econômico preponderante, tanto para atrair o investidor como para evitar transtornos e danos ao patrimônio de quem está aqui instalado. Acho que estamos merecendo a vinda das Forças Armadas, trazendo o Exército para atuar como polícia nos moldes do Rio. Na Constituição é garantido também o sagrado direito de ir e vir.
Esse tema é espinhoso e complexo, mas não pode ser negligenciado, precisamos de um grande entendimento nacional e, no nosso caso, local, pois a situação está fora de controle. Antes de qualquer coisa, temos que ter claro que precisamos atacar as causas, mas os efeitos também... Nunca nos esquecermos dos deveres e não só nos lembrarmos dos direitos humanos. Cabe uma reflexão de todos, e a quem de direito, a liderança do processo; não podemos continuar nesta situação. Na fala do Ministro “...as ovelhas se incomodam com o cão pastor...”, resta-nos admitir que realmente os agentes de segurança não têm tido o apoio da sociedade, em boa parte influenciada pela grande mídia. Nossos índices são de guerra civil, deixando atentados terroristas, tipo o de Barcelona, parecendo acertos de gangues. Engraçado que o foco do noticiado lá foi dado às mortes das vítimas civis, restando aos terroristas mortos apenas a estatística de bandidos abatidos. A cobertura aqui, em algum momento, ouviria a família do terro-rista, invertendo o papel de vítima e bandido.
Não estamos sofrendo com o terrorismo, mas com o tráfico de drogas, roubo de cargas, desaparelhamento dos órgãos de segurança, a falta de políticas públicas, legislação inoperante ou defasada... Várias são as razões e devem ter outras; cada um percebe dentro de suas próprias experiências. E o pior de ontem fica pior hoje e a cada dia vivemos esperando o fundo do poço. Não tenho a solução, nem me atrevo a apontar caminho, apenas trago o assunto, repito, para nossa reflexão. “Só sei que nada sei”, parafraseando o filósofo grego Sócrates, mas sei que não podemos permanecer no atual estágio. Estamos em guerra e perdendo a guerra, encar-cerados em nossa própria incapacidade de agir. Saí do evento com a sensação de que temos o “check list”, o diagnóstico, mas estamos muito longe dos planos estratégicos, operacionais e da ação efetiva. Queria muito estar enganado, mas!...
Karim Abud Mauad
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