As transformações da e na sociedade ocorrem invariavelmente ao longo do tempo. A Uberaba de outrora pujante e empreendedora parece ter ficado num tempo distante. A cidade que antes emendava o Dia do Trabalho, o aniversário e a abertura da ExpoZebu, na sequência dos três primeiros dias de maio, hoje antecipa estas datas, seja pelo aniversário, que mudou para março, e a abertura da Feira, já há algum tempo em abril. O Dia do Trabalho, assim definido na Era Vargas, continua inalterado; o operário é que mudou, e muito. Novos tempos, novas relações de trabalho, seja formal ou informal.
Nestes dias, revendo a história, percebi que as mudanças se sucedem e todos vêm sendo alcançados por ela, de uma forma ou de outra. Este é o lado bom de envelhecer, e na outra extremidade nos sentimos saudosistas, pois, como dizia Cazuza, “o Tempo Não Para”.
Algumas tradições deveriam ser preservadas, evitando-se o clichê de isto não ser apenas um costume.
O exemplo próximo é a não vinda de um Presidente da República aqui na abertura, assim como termos perdido o bonde da Agrishow, qualquer que fosse o nome original. Esta era uma tradição demonstrativa de prestígio ou apenas um costume, de fato, sem importância?
Uberaba precisa manter suas conquistas passadas e ampliar suas ações para novas e necessárias realizações e proezas.
Uberaba precisa consolidar sua importância histórica, reaprendendo e reensinando aos seus cidadãos o que a fez ser a Princesinha do Sertão. Aliás, recomendo o documentário “Minha Terra, Minha História - Uberaba, Princesa do Sertão”, direção e roteiro do competente Alexandre Saad. O filme foi baseado no nosso Arquivo Público. Sem qualquer viés político, apenas percebam a narrativa dos fatos.
A minha preocupação é que, ao esquecermos sua trajetória, possamos cometer injustiças, diminuir importâncias e repetir erros que nos trouxeram a momentos não tão firmes no presente.
Temos quatro símbolos marcantes em nossa trajetória, a saber – o acervo de nossas igrejas católicas, o passado dos Dinossauros, o gado zebu e a grandeza de Chico Xavier. Não podemos perder as oportunidades que essas riquezas podem nos gerar no turismo, nos negócios e, claro, na preservação de nossas raízes.
A isto deveríamos somar nossa tradição cultural com festivais de música, teatro, nossa literatura e ALTM, nossos museus. Aquilo que não conhecemos não respeitamos e gostamos. Hoje, mais do que nunca, precisamos resgatar este passado e assim passarmos a enxergar além da ponte do Rio Grande num sentido e de outro lado, a vizinha Uberlândia. E seria bom um sobrevoo nesta região e até um mirante, se isto fosse possível, na querida Praça Pôr do Sol.
A importância que tivemos ao liderar o Brasil Central de outrora não nos pode permitir apequenar e ficarmos restritos ao atual Triângulo Sul.
A tristeza de ver desaparecerem ou encolherem estruturas fortes, como nossos hospitais, que cuidavam plenamente do câncer (Hospital Hélio Angotti), das crianças (Hospital da Criança), do fogo selvagem (Hospital do Pênfigo), o antigo Sanatório Espírita, hoje rebatizado, entre outros, impede-nos de entender como lidar com as crises de agora. Sugiro que busquem saber como estão elas – quem sabe podemos ajudar para que se recuperem – e evitem notícias tão tristes como as que têm surgido ultimamente.
Uberaba merece ser revista e que possamos voltar a trilhar bons e pujantes caminhos. Educação e Cultura sempre. Coletividade, e não singularidade.
A atividade econômica é importante nesta reconstrução e ela exige também mentalidade nova. Aos jovens, principalmente da periferia, que a cidade lhes seja apresentada. Aos mais velhos, um pouco de visita a outras cidades ajudaria muito, e se cada um fizer um pouco, a cidade pode retornar ao seu esplendor. Visite e redescubra nossa Uberaba.
Nossa rica história precisa nos servir de inspiração.
Karim Abud Mauad
karim.mauad@gmail.com