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Que país foi este?

Karim Abud Mauad
Publicado em 11/11/2021 às 18:46Atualizado em 18/12/2022 às 16:43
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Tragédias nos abalam independente do momento em que estamos vivendo. Com mais de 5.000.000 (cinco milhões) de mortes pelo mundo e chegando em 610.000 (seiscentos e dez mil) no Brasil, ainda fomos tomados pela inesperada morte da cantora Marília Mendonça, a “rainha da sofrência”, no auge dos seus 26 anos, com sucesso meteórico, uma quebra de paradigmas em relação ao mercado fonográfico nacional. Para piorar, partiu deixando um bebê de menos de dois anos e no dia seguinte ao aniversário da mãe. De fato, tudo muito triste e trágico. Na era da explosão pela mídia social, o dia fatal da cantora ficou registrado, a começar pelo exercício físico, na academia; continuou no contato com seu fã clube e culminou com a chegada no embarque. As postagens aumentam a dor de todos, principalmente da família. Este é mais um fato a ser lamentado nestes dois últimos anos, onde a “sofrência” e o sofrimento da população parecem dar o tom em nossas vidas. Assistindo a um documentário sobre samba e jazz, Rio de Janeiro e Nova Orleans nos USA, um dos músicos dizia da capacidade da música em nos transportar para um estado de felicidade mesmo que momentâneo. A perda de Marília Mendonça abre esta lacuna em quem a tinha como ídolo musical.

Ainda neste campo, precisamos lamentar o show de horrores de alguns ao comentar o episódio e o extremo mau gosto ao falar do peso, forma e qualidades artísticas da cantora. As abordagens lastimáveis e preconceituosas apenas revelam o quanto temos que evoluir em termos de sociedade e muitos como seres humanos. O país do pejorativo, do chulo, do inconcebível. O enfrentamento de Marília quanto aos preconceitos e estereótipos, não sejam em vão. Descanse em paz.

Em outro campo, também muito importante, o ex-ministro Aldo Rebelo esteve na cidade e, em palestra aos estagiários da Adesg, provocou ao perguntar se todos os problemas são iguais, qual o motivo das soluções serem diferentes? O salário-mínimo, a inflação e o desemprego, por exemplo, afligem os trabalhadores de centro, esquerda e direita, daí a dúvida: qual a razão de estarem tão divididos e radicalmente uns contra os outros, se precisamos achar caminhos para todos. Propôs o nacionalismo que preserve o Brasil. O consenso, não a força. Sugiro que busquem e ouçam esta aula de civilidade humana.

O momento grave pelo qual passa a nação inspira cuidados e aqui não me refiro só à Economia e Política, mas também à Educação, notadamente no que anda ocorrendo no InepNEP, às vésperas do ENEM, a prova que permite aos nossos jovens ingressar no Ensino Superior. Em um dia, em sinal de protesto pela postura do presidente do órgão e, também, do Ministro da Educação, 33 colaboradores entregaram seus cargos e isto a menos de duas semanas do primeiro dia de provas. A melhora do entendimento da Economia e a formação da postura e capacidade dos atores na Política passa inevitavelmente pela Educação. A não apuração deste fato gravíssimo aponta o caos que vivemos hoje.

Um país que não respeita seus mortos, que não busca entendimentos e relega a Educação a segundo plano perde o direito de sonhar com um futuro melhor. As novas gerações ficam assim comprometidas. O bordão “Que país é este?” não tem mais tanta importância, quando fica claro que temos de nos preocupar com o momento atual. O bordão adequado é “Que país foi este?”. Fica a reflexão. Deixamos de ser um país. Temos tempo ainda de voltar a ser um país. Será?

Karim Abud Mauad

karim.mauad@gmail.com

 

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