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Óculos melhora o rendimento escolar, diz pesquisa

Leoncio Queiroz Neto
Publicado em 17/12/2022 às 15:37Atualizado em 26/12/2022 às 23:00
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Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que a falta de óculos é uma importante causa de queda no aprendizado. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, a informação foi comprovada por uma pesquisa realizada em Campinas com pais e professores de 36 mil alunos da rede municipal de ensino, durante programa social desenvolvido pelo hospital em parceria com indústrias do setor óptico, que incluiu triagem visual, consulta oftalmológica, óculos gratuitos e tratamento de outras alterações na visão.

A pesquisa mostra que, após um ano usando óculos, houve melhora no rendimento escolar de 50% dos estudantes; a concentração de 57% aumentou, e 38,2% ficaram menos agitados, conforme observaram os professores.

Para os pais, 88% das crianças passaram a ter mais concentração e interesse pelo estudo, todos que sentiam dor de cabeça pararam de se queixar e 91% começaram a realizar tarefas que antes não conseguiam.

Erros de refração lideram problemas de visão em crianças. Queiroz Neto destaca que entre crianças em idade escolar os problemas de visão mais frequentes são os erros de refração – miopia, hipermetropia e astigmatismo –, que podem ser corrigidos com óculos de grau. O problema é que, na ação social realizada, o hospital constatou que sete em cada dez nunca tinham passado pelo oftalmologista. O médico explica que devido à miopia, dificuldade de enxergar à distância, o formato esférico da córnea se torna curvo, o olho cresce mais que o normal e as imagens se formam antes da retina, tornando a visão à distância embaçada. Na hipermetropia, dificuldade de enxergar próximo, a córnea é mais plana, as imagens se formam atrás da retina e a visão de perto perde a nitidez. “Já no astigmatismo, a córnea tem um formato irregular, que forma mais de um foco sobre a retina, tornando as imagens próximas e distantes desfocadas”, explica.

No Brasil 40% dos bebês não passam pelo teste do olhinho. A OMS alerta que a dificuldade de enxergar nos primeiros anos de vida causa atraso no desenvolvimento motor, de linguagem, emocional, social e cognitivo. Por isso, Queiroz Neto alerta aos pais que se certifiquem na maternidade se o bebê passou pelo teste do olhinho logo após o nascimento e repitam o exame quando a mãe receber alta. Isso porque, a última PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) divulgada pelo IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística) revela que no Brasil 40% dos bebês não passam pelo exame. O especialista explica que o teste do olhinho diagnostica doenças congênitas – catarata, glaucoma, retinopatia da prematuridade e retinoblastoma (tumor na retina), que são as principais causas de deficiência visual grave e perda permanente da visão entre crianças. “A primeira consulta com um oftalmologista deve acontecer aos 3 anos, quando um dos pais usa óculos, e aos 4 anos quando nenhum dos dois usa”, afirma.

Miopia cresce na pandemia. Levantamento realizado entre abril e junho deste ano com 297 especialistas pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), do qual Queiroz Neto faz parte, mostra que para 70% a pandemia aumentou a miopia na faixa etária de 0 a 19 anos. As causas apontadas foram o maior uso do celular e computador, somado à baixa exposição ao sol. Queiroz Neto explica que o sol estimula a produção de dopamina, hormônio que controla o crescimento do olho. Por isso, a recomendação é praticar pelo menos duas horas/dia de atividade. Já o uso abusivo das telas faz os músculos do olho ficarem acomodados a enxergar só o que está próximo, conforme ficou demostrado em um estudo realizado pelo médico.

Como identificar problemas de visão. Hoje a grande demanda da visão de perto está fazendo a miopia passar despercebida. Os sinais de alguma alteração na refração sã

1. Assistir TV muito próximo – Indica miopia, bem como aproximar qualquer outro objeto do rosto.

2. Dor de cabeça frequente – Quando acontece após horas de esforço visual, é sinal de erro refrativo decorrente de esforço visual.

3. Acompanhar a leitura com um dedo – Pode indicar ambliopia ou olho preguiçoso, que faz a criança anular o olho de pior visão e embaralha as linhas.

4. Apertar os olhos para ler – sinaliza falta de foco.

5. Lacrimejamento excessivo – Pode estar relacionado à obstrução do canal lacrimal, ou uma disfunção lacrimal.

6. Coçar os olhos frequentemente – pode sinalizar predisposição ao ceratocone, conjuntivite ou alergia.

7. Tampar um olho com a mão - Sinaliza ambliopia ou estrabismo.

8. Alta sensibilidade à luz – sinal de estrabismo ou astigmatismo.

9. Dificuldade para ler – estrabismo ou astigmatismo.

10. Dificuldade para ler placas de sinalização – miopia.

Queiroz Neto afirma que novas tecnologias em lente de contato e óculos estão chegando ao mercado para conter a progressão da miopia. Para ele a única forma de reduzir a deficiência visual por falta de óculos é através de ações sociais em que a comunidade oftalmológica e o Poder Público compartilhem este objetivo. Foi este compartilhamento de responsabilidade com a saúde ocular que permitiu ao Penido Burnier realizar uma pesquisa pioneira sobre a importância dos óculos na educação e possibilitou a parceria com o Poder Público e a ONG internacional OneSight para melhorar visão de crianças e adultos. A expectativa é renovar este compromisso para o próximo ano.

Leôncio Queiroz Neto

Oftalmologista; presidente do Instituto Penido Burnier

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