Mesmo que se queira não é possível mais retroceder além de 68, século XX, que é uma espécie de marco regulatório histórico de valores, costumes e visão de Mundo. O que se percebe, revisitando a época, através de livros, textos, filmes, documentários, na ocasião eu tinha oito anos, é que os efeitos resultantes do período não se deram na ocasião porque o movimento foi contido e a sensação de derrota tornou-se evidente. Acontece que as questões postas como aspirações de mudanças profundas tanto do ponto de relações de trabalho, como sexualidade, passando por direitos à livre expressão cultural e da revisão de valores até então normativos de comportamento, além de contestações à Guerra do Vietnã, racismo, enfim, uma extensa pauta que foi se construindo em senso comum. Não havia internet, mas o Mundo estava em ebulição e em sintonia com as ruas de Paris que, é bem verdade, funcionaram como uma ressonância de vários acontecimentos dentro e fora da França, atingindo a Europa e outros continentes. Com o movimento lado, veio a sensação de frustração. Ocorre que a sua dimensão estava mal mensurada, tanto por aqueles que foram reivindicar como também por quem o reprimiu. A grandeza do que ocorrera, apenas fora represada, mas constatou-se inevitáveis as transformações advindas de 68. Ou seja, seus efeitos surgiram paulatinamente e a longo prazo, anos mais tarde. Determinadas conquistas são irreversíveis, por mais que se tente não se sufocam. Foi de tal modo incorporado no Ocidente, que nem mesmo relutantes conservadores e reacionários se dão conta de que não querem perdê-las. “O agressor não é aquele que se revolta, mas aquele que motiva”, é uma das inúmeras frases e palavras de ordem que ilustraram os muros de Paris com pichações. “É proibido proibir”, outra, talvez a mais citada e conhecida. Todos nós, pelo menos os ocidentais vivos, temos 68 impregnado com maior ou menor intensidade em nossas vidas, isto é irrefutável. Não há como desapegar. E seus efeitos são nítidos e palpáveis. Todo mundo carrega um pouco de 68 dentro de si, seja qual for a versão que mais se adequa ou lado que se encaixa. Parece ser tão democrático que todos se beneficiem, mesmo os que se dizem contra. Afinal, democracia não é comungar desinformação e punir o conhecimento, isto tem outro nome.
(*) engenheiro