Já dobramos o primeiro semestre de 2013. Chegamos a agosto. Sete doze avos do ano ficaram para trás, restam cinco meses. Nesta toada daqui um pouquinho estamos batendo à porta de 2014. Ano de eleição no Brasil.
A visita inspiradora do Papa Francisco tem vários aspectos e significados. Destaco um especialmente por desencadear possíveis desdobramentos e reflexões. Quando Sua Santidade emite sinais e gestos com atitudes franciscanas, sua naturalidade o credencia e dá credibilidade em sua autoridade. Quando expressa seu pensamento, o faz de maneira consciente, pautado em assuntos absolutamente atuais e outros infelizmente recorrentes, como o são a corrupção e a pobreza...
Uma pequena parcela, um tanto ruidosa, já se arrisca a descredenciar o sentido ecumênico e sincero de sua presença, alegando que, ao se aproximar da unanimidade, ele está a serviço da elite dominante e conservadora, colaborando para um retrocesso nos avanços alcançados.
Para este disparate, precisamos acomodar as panelas em suas respectivas prateleiras. O Papa, ao visitar o Brasil e participar da JMJ, vem em missão evangelizadora para quem comunga de sua fé, com mensagem de esperança e de conclamação aos jovens. Vem sim com o propósito político de cativar adeptos ao catolicismo. É legítimo, quer aumentar o rebanho de pastoreio, reconquistar evadidos. Não deixa de ser uma campanha. Normal. Por que não pode fazer? Está exercendo democraticamente o direito à livre expressão. Vai-se atingir o objetivo? O tempo dirá.
O importante é interpretar esta visita como de fato ela ritualmente e diplomaticamente representa. Tanto na figura do pontífice católico catequizador quanto como Chefe de Estado que é.
Impressionou sim seu desempenho, seu desembaraço e sua espontaneidade. Falou de bolsa de valores e pobreza, deixando claro o que pensa destes dois assuntos indissociáveis e o tratamento da mídia para cada um deles. Condenou o consumo como forma de sucesso e prazer e a ostentação como valor de vida. Cobrou voto de pobreza dos sacerdotes e apontou desvios no Vaticano, reconhecendo o desgaste à Igreja. Não adotou a estratégia do desconhecimento. Convocou os jovens a uma atitude revolucionária e até mesmo utópica, reverenciou e pediu respeito aos idosos que são a reseva e o recanto da experiência e testemunhos a serem mirados. Tratou da relação gay com a Igreja de forma inédita, por isto surpreendente. Legitimou o sacerdócio da comunhão aos divorciados não em segundo casamento. Explicitou a relevância e o papel teológico da mulher em importância e prioridade aos bispos, padres e sacerdotes.
Despede-se de nós com data de volta agendada, 2017. O que mais aguardar de sua presença por aqui? Precisamos entender o papel de cada um. É um Papa com os dogmas, postulados e convicções da Igreja Católica. É assim que devemos enxergar para se ter a visão correta de sua pregação.
Em uma sociedade democrática a diversidade e a pluralidade são pilares basilares. Não dá para negar que Francisco demonstrou saber o correto significado disto.
Bom, ele está de volta ao Velho Continente, nós estamos de volta ao nosso cotidiano, bem mais próximos do início de 2014 do que do começo de 2013, ano que já tem seu lugar de destaque na História do Brasil, nem precisa dizer por que e certamente terá reflexos imensos em 2014.
Para uma visão otimista, o país está tendo oportunidades de mudança de postura. O superficialismo, o imediatismo midiático e soluções milagreiras demagógicas estão sendo rechaçados. Que em 2017 o Papa possa avaliar que valeu a pena ter vindo em 2013.
(*) Engenheiro civil