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Achados e perdidos

Na arrumação doméstica sazonal sou incumbido de selecionar, em minha estante...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 07/06/2016 às 19:49Atualizado em 16/12/2022 às 18:35
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Na arrumação doméstica sazonal sou incumbido de selecionar, em minha estante, objetos, impressos, revistas e livros que podem ser dispensados, para a boa acomodação dos guardados, uma espécie de achados e perdidos que, de tempos em tempos, são peneirados pelo bem da organização da casa. Esta tarefa recorrente a cada quadra de ano remete-me a diversas etapas de meio século de minha existência. Mexo, remexo e acho que conseguirei desfazer de muita coisa que junto por anos e anos. No entanto, as recordações superam a praticidade e falam mais alto, impedindo o desfazimento da maioria dos guardados que ganha fôlego até a faxina seguinte. Parece que preservar por perto fragmentos de minha vida conforta-me e assegura-me de não perder contato com a linha do tempo. Sei que ao final de cada inspeção e seleção, concluído o trabalho, postergo a sobrevida de quase tudo. É tão agradável deparar com um cartão de aniversário enviado por um ente querido, reler uma carta escrita à mão, rever um cartão postal, um retrato em branco e preto ou em cores da turma da escola, dos amigos dispersos pelo mundo afora, do time de futebol. Também é valioso poder tocar cada foto, livro, revista, anotações, sentir o cheiro do tempo que exala da ampulheta que insisto em manter na estante. Desta vez chamou-me especial atenção e atraiu-me para as profundezas de suas páginas incontáveis de doze volumes a enciclopédia Delta- Larousse, que ganhei de presente de aniversário de minha querida e saudosa mãe ao completar onze anos de idade. Folheei aleatoriamente diversos livros de sua dúzia. Manuseando-os cuidadosamente, embarquei no trem do retorno, a viagem inconsciente que nos descola do atual e nos transporta de volta em busca de nós mesmos, espécie de ajuntamento de peças do nosso mosaico existencial. Vi e li tanta coisa do Mundo guardado na enciclopédia desde os primórdios até 1970. Lá está um inestimável arsenal de informações, cuja busca era um deleite à medida que satisfazia nossa curiosidade e nos respondia as dúvidas e os questionamentos que tínhamos em nossa vida de estudante. A enciclopédia impressa era o grande instrumento de busca. A revolucionária internet, fundamental em nossas vidas, tornou-a obsoleta e com isto desapareceu o vendedor de enciclopédia. Lembro-me, como se agora fosse, da visita do vendedor de enciclopédia, tanto no dia da compra quanto no da entrega, este último de imensa alegria. Rendo homenagem à figura importante do antigo vendedor de enciclopédia para diversas gerações e a tudo de positivo que também sucumbiu diante da implacável força do progresso e da tecnologia. Revigorado por preservar praticamente tudo, finalizo a faxina. Estou pronto para a próxima...

 

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