O que é democracia, afinal? Será o que estamos vivendo atualmente? Me recuso a acreditar e me recuso a aceitar argumentos que se sustentam no clichê “as instituições estão trabalhando normalmente e não há nenhum risco de interrupção do estado democrático de direito, portanto estamos em pleno gozo de nossas liberdades e com a democracia cada vez mais solidificada”. Agora vamos sair da esfera retórica, às vezes rocambolesca, e chegar à prática que, ela sim, serve para ratificar ou não os preceitos democráticos que o papel aceita com tintas carregadas de todos os tons democráticos. Aprendemos que, na democracia, o Presidente pode muito, mas não pode tudo. Na retórica, tudo certo. E na prática? É o que vem ocorrendo ou ele está podendo tudo? Em uma democracia, mesmo que haja alguém que pode muito, querendo poder tudo, não haverá espaço para que isso ocorra. Trump tentou anular sua derrota alegando fraude eleitoral, fracassou. Porque lá se sabe que o mandatário não pode tudo. Trump, com o discurso negacionista adotado pelo nosso Presidente, já anunciou o início da vacinação nos EUA. Por mais retórico e boquirroto que seja o presidente norte-americano sua prática deve condizer com o que as instituições e órgãos de Estado preconizam, não adianta esboçar soberania. E aqui do lado debaixo do Equador? O que temos pra hoje? O que se constata é o desprezo e o menosprezo à vida de todos com um exército de algozes da democracia insuflado por alguém que na verdade deveria zelar por ela. São milhões de pessoas, mais de um quarto da população, a entoar a cantilena tosca do vacine-se quem quiser, vacina da China não presta, vai ter Natal sim, a pandemia está no finalzinho e mais uma série incontável de disparates que fulminam o bom senso e faz um país inteiro padecer por um capricho de alguém que, no momento, acha que pode tudo e, infelizmente, parece estar podendo tudo. Salvar a democracia é crucial para salvar vidas da Covid e afastar definitivamente o retrocesso, a intolerância e o fascismo travestido de moral e bons costumes. O que é preciso urgente, na prática, são as instituições que na retórica funcionam plenamente, exercerem um papel reativo a todo ataque à vida e à democracia e dizerem, amparadas na lei, BASTA.
Luiz Cláudio dos Reis Campos