Que me perdoem os que discordarão, mas Nelson Rodrigues tem razão: “O Fluminense é o único time Tricolor do Mundo. O resto são só times de três cores”. A final da Libertadores com o Boca Juniors ratificou a sentença do maior dramaturgo brasileiro. O Maracanã, vestido de verde, branco e grená, floriu as telas televisivas sintonizadas, Brasil afora, no maravilhoso espetáculo da torcida, que seguramente inspiraria Volpi para mais uma obra de suas belas bandeirinhas. Inevitavelmente, Van Gogh, que evitava o verde e o vermelho, dando preferência ao azul e amarelo, cores do Boca, se contagiaria com a impressionante evolução das cores tricolores que se agitavam, tingindo traços impressionistas a inundar as vistas de quem teve o privilégio de assistir à exibição de milhares de artistas empunhando bandeiras, faixas e flâmulas. Cores de Almodóvar, cores fortes para expressar a gama de sentimentos vividos pelos seus personagens, para provocar a atenção dos espectadores. E a torcida tricolor era pura Cores de Almodóvar, despertando sentimentos indescritíveis, em coreografia impecável, fazendo o mundo delirar com suas cores. “Cores de Frida Kahlo, cores”. Foram 136 minutos de pura arte a céu aberto, como se os degraus das arquibancadas do “Maraca” representassem as escadarias de Montmartre, com a profusão de pintores experimentando cores, movimentos e devoção ao seu ofício. Pura arte espontânea de tricolores em êxtase e ansiosos para a conclusão da obra. Aí que entra o fator especial, os atores em campo, fonte inspiradora do bailado tricolor das bandeiras, cantos, gritos de guerra, xingamentos e louvores. Lá estavam, dos pés à cabeça, os maestros regentes da orquestra instalada na plateia, cujo palco era o gramado verde, riscado de branco, do maior estádio da América Latina. 136 minutos, duas horas e dezesseis minutos de incansável busca ao título. Que eternidade! Mas que, ao final, eternizou-se na América o único Tricolor do Mundo. Inédita conquista, a que faltava, a que escapuliu caprichosamente em 2008. Agora veio coroar a história de 121 anos até aqui, com a taça tão almejada. Dentre incontáveis tricolores que partiram antes de presenciar o indescritível e majestoso momento, vai aqui algumas citações: Bibi Ferreira, Cartola, Nelson Rodrigues, Hugo Carvana, Mário Lago, Tom Jobim, Jô Soares e o meu pai, que foi o responsável por me tornar o fervoroso tricolor que sou. “Bate outra vez, com esperanças, o meu coração”.
Luiz Cláudio dos Reis Campos