Ontem foi o Dia da Amizade. Data bem significativa para celebrar a mais espontânea relação de vínculos entre duas pessoas. Sentimento mais nobre na escala de manifestações da natureza humana. É elo inquebrantável que não oxida, ao contrário oxigena e permite acreditar que cada um de nós é capaz de estabelecer com alguém uma intensa cumplicidade, uma empatia indescritível, uma troca onde cada um contenta-se do que o outro é capaz de dar. É tudo singelo e puro. É a mais despojada e descomprometida relação. Por isto e com razão a expressão, “amizade não tem preço”. É apreço que não se esgota, não tem tempo e data que interfira na sintonia que ela estabelece entre as pessoas. Um porto seguro para chegar e depois partir com a certeza de que quem ficou sempre estará para aguardar e acolher. Na amizade somos cais e também embarcação. Amizade é a contradição para o tempo que naturalmente tudo vai depreciando, fadigando. Não há tempo ruim na verdade. Desinteressadamente intensa e definitivamente inesquecível, assim uma amizade se consolida, edificada às vezes nem sabe-se como e nem por que aconteceu e solidificou-se inquebrantável. Pouco se explica, mas não precisa explicação, motivo. É uma simbiose que na biologia não se relata e nem se trata, mas não há maior do que entre amigos. A atração entre amigos se dá sem observar traços físicos, estatura, peso. É imaterial, atemporal, é obra de arte criada e regada a quatro mãos. Artistas da criação somos nós, que esculpimos, moldamos, pintamos, retocamos. Amizade é obra de arte que jamais será restaurada. O tempo não consome, não trinca, não desbota, não desmancha. Amizade nos possibilita edificar, com cada um, diferenças nossas que possuímos para habilmente nos estabelecermos com os outros amigos. Porque para cada um temos de ser únicos e específicos. É o exercício salutar de nos desdobrarmos em mais de um preservando essência e doando o que temos de melhor. Somos vários em números correspondentes à quantidade de amizades. Quantidade não interessa. Interessa densidade, intensidade, sinceridade, lealdade, solidariedade. Lembro-me da expressã “está com cara de poucos amigos” e penso que ela pode ser vista com dupla interpretação, porque não é apenas para dizer que alguém está mal-humorado, contrariado. Me vejo com cara de poucos amigos porque, afinal, são poucos mesmo aqueles que consideramos como tal. Aos poucos e fundamentais amigos, aquele abraço por ontem.
(*) engenheiro