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Com que burca eu vou?

Taxar de atrasado um povo pelos seus costumes é argumento de dominadores que determinam seu modelo como conduta adequada...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 05/10/2009 às 02:23Atualizado em 20/12/2022 às 10:16
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Taxar de atrasado um povo pelos seus costumes é argumento de dominadores que determinam seu modelo como conduta adequada. Ao dominado resta a imitação de hábitos, religião, alimentação, vestes, idioma, educação... É obrigado a moldar-se à semelhança daqueles que têm a receita para mudar sua vida pretensamente para melhor. Nesta relação se estabelece o dilema ocidente e oriente. Visões de mundo e concepções distintas. Além do petróleo, é claro. Com a guerra fria um dos países mais pobres tornou-se centro de atençã o Afeganistão. Está em ruínas. Agora é alvo do combate ao terrorismo mundial desde o atentado às torres gêmeas que matou mais de três mil pessoas e continua amontoando vítimas de vários países, liderados pelos norte-americanos, que enviam milhares de soldados para lá. Estão em permanente guerra contra os talibans, “aliados” de Bin Laden.    Não é fácil imaginar uma nação que já chegou a Marte não consiga encontrar Bin Laden, um fantasma a desafiar as mais sofisticadas tecnologias e serviços de inteligência. Será isso verdade? Ou ele vivo, foragido e sempre procurado é mais interessante para alimentar a sanha bélica intervencionista? O terrorismo é abominável e inaceitável como prática de manifestação política ou religiosa. Não se justifica para alcançar qualquer objetivo e nem pode servir de ardil para, com argumento de eliminá-lo, praticá-lo de forma autorizada e ceifar vidas inocentes.    O “Caçador de pipas”, obra prima de tantos ensinamentos, mostra-nos que os afegãos são seres humanos como qualquer um de nós. Não são primitivos, ou pré-históricos, apenas contrastam profundamente com o modelo único de comportamento da lógica civilizatória ocidental. Lá as mulheres usam a burca. Uma indumentária arcaica que traduz abominável subjugação. É como um periscópio emerso do mar de areia. É notória e condenável a submissão que a elas se impõe. Precisam conquistar no dia-a-dia a liberdade de ir e vir e de vestir da forma que lhes convier. Porém, essa conquista não vem pela força externa de estranhos.     Do lado de cá, nos “shoppings centers”, circulam mulheres, notadamente jovens, trajando saias, calças, botas e sapatos idênticos, com as mesmas bolsas, os mesmos cabelos de secadores e chapinhas, os mesmos batons, semelhantes tatuagens, piercings, botox e silicones, toda sorte de dieta e fitness. A igual beleza que impede de ser única, pois convenciona e condiciona a imagem e dá a falsa sensação de liberdade e criatividade. Um mundo melhor pode-se avistar pela trajetória da afirmação humana quando formos capazes de livrar-nos de todas as burcas do oriente e ocidente, respeitando os costumes, os ritos, os credos, a origem e a história de cada povo.

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